Adolescência e Obesidade: Descubra Como a Genética e o IMC Influenciam o Peso na Vida Adulta

Estudo de 25 anos com gêmeos finlandeses revela o papel da genética no IMC durante a adolescência e sua influência no ganho de peso na vida adulta. Saiba mais sobre as descobertas científicas e os fatores que moldam nossa saúde ao longo da vida.

ENDOCRINOLOGIA

Fábio H. M. Micheloto

11/22/20244 min read

A Influência da Genética no IMC e no Ganho de Peso: Lições de um Estudo de 25 Anos com Gêmeos Finlandeses

A adolescência é uma fase crítica para o desenvolvimento físico e emocional, mas também pode definir o rumo da saúde metabólica ao longo da vida. Pesquisas recentes destacam a relação entre o índice de massa corporal (IMC) durante a adolescência e o ganho de peso na vida adulta, sugerindo que fatores genéticos desempenham um papel significativo nesse processo. Um estudo finlandês, realizado ao longo de 25 anos com gêmeos, trouxe à tona dados intrigantes sobre como a genética e o ambiente moldam nossa trajetória de peso.

Adolescência e IMC: O Início de um Caminho

O IMC na adolescência é um indicador-chave para prever o risco de obesidade na vida adulta. Dados do estudo finlandês, que acompanhou 1.400 gêmeos de 11,5 a 37 anos, mostram que indivíduos com IMC elevado na juventude tendem a ganhar mais peso ao longo da vida. O estudo analisou os IMCs em cinco idades (11,5, 14, 17,5, 24 e 37 anos) para identificar padrões e diferenças entre os sexos.

Diferenças no ganho de peso entre homens e mulheres
Os resultados mostraram que os homens apresentaram um aumento mais acentuado no IMC entre 17,5 e 24 anos (2,46 kg/m²), enquanto nas mulheres o maior ganho ocorreu entre 24 e 35 anos (2,32 kg/m²). Apesar de os homens terem IMCs médios mais elevados, as mulheres registraram taxas de aumento mais consistentes ao longo da vida adulta.

O Papel da Genética: Uma Influência Predominante

A hereditariedade foi um dos focos principais da pesquisa, com estimativas de heritabilidade do IMC que variaram de 0,84 na adolescência para cerca de 0,72 a 0,75 na vida adulta. Isso significa que fatores genéticos explicam uma grande parte das diferenças de IMC entre os indivíduos, especialmente durante a juventude.

Correlações genéticas e ambientais
Os resultados mostraram que as correlações entre o IMC durante a adolescência e o ganho de peso na vida adulta são explicadas principalmente por fatores genéticos. Por exemplo, as correlações genéticas entre o IMC aos 11,5 e 14 anos com o ganho de peso até os 37 anos variaram de 0,35 a 0,85, indicando uma forte influência genética. No entanto, os fatores ambientais únicos, como hábitos alimentares e atividade física, também tiveram impacto, especialmente em mulheres.

Predisposição genética ao ganho de peso
Além disso, os pesquisadores analisaram os escores de risco poligênico (PRSBMI), que avaliam a predisposição genética ao aumento do IMC. Embora as correlações entre PRSBMI e o IMC em diferentes idades tenham sido moderadas (variando de 0,24 a 0,31), elas reforçam que os fatores genéticos contribuem para o ganho de peso ao longo do tempo.

O Ambiente: Uma Influência Secundária, Mas Importante

Embora a genética tenha um papel predominante, o estudo destacou a importância dos fatores ambientais únicos, que se tornaram mais relevantes com o avanço da idade. Esses fatores podem incluir mudanças no estilo de vida, alimentação, atividade física e outros aspectos que diferem mesmo entre gêmeos idênticos.

A interação entre genética e ambiente
Curiosamente, enquanto o ambiente compartilhou pouca influência no início da adolescência, ele ganhou relevância na vida adulta, contribuindo para as variações no IMC. Por exemplo, mudanças de comportamento, como a adoção de dietas mais saudáveis ou a prática de exercícios físicos, podem explicar parte das diferenças observadas entre os gêmeos.

Limitações e Implicações do Estudo

Apesar das contribuições significativas, o estudo enfrentou algumas limitações. O uso de apenas três medições do IMC durante a idade adulta dificultou a análise de padrões mais complexos, como ciclos de peso. Além disso, a amostra relativamente pequena pode ter reduzido o poder estatístico para identificar correlações mais sutis.

Impacto na saúde pública
Ainda assim, os resultados trazem implicações importantes para a saúde pública. Identificar adolescentes com maior predisposição genética ao ganho de peso pode ajudar a desenvolver intervenções personalizadas para prevenir a obesidade na vida adulta. Estratégias de prevenção focadas em mudanças no estilo de vida, combinadas com o monitoramento genético, podem ser ferramentas poderosas para enfrentar a epidemia global de obesidade.

Conclusão: Um Olhar para o Futuro

O estudo finlandês lança luz sobre a complexa interação entre genética e ambiente no controle do peso corporal. Ele reforça a importância de monitorar o IMC durante a adolescência como um indicador precoce de risco para a obesidade. Além disso, destaca a necessidade de políticas que incentivem hábitos saudáveis desde cedo, especialmente para aqueles com maior predisposição genética.

Embora a genética desempenhe um papel inegável, o ambiente continua sendo uma peça chave na promoção de uma vida mais saudável. Ao unir ciência e saúde pública, podemos traçar um futuro em que o conhecimento genético seja usado para empoderar indivíduos na busca por uma vida mais equilibrada e saudável.

Fonte: https://www.nature.com/articles/s41366-024-01684-3