Agonistas do GLP-1 para perda de peso: estudo revela riscos aumentados de pancreatite, gastroparesia e obstrução intestinal.
Pesquisas recentes sobre o uso de agonistas do GLP-1, como semaglutida e liraglutida, para perda de peso, apontam aumento nos riscos de eventos gastrointestinais adversos, como pancreatite, gastroparesia e obstrução intestinal. Saiba mais sobre os resultados deste estudo e as implicações para pacientes que utilizam esses medicamentos.
Fábio H. M. Micheloto
10/15/20244 min read


Agonistas do GLP-1 para perda de peso: estudo revela riscos aumentados de pancreatite, gastroparesia e obstrução intestinal.
Nos últimos anos, os agonistas do peptídeo 1 semelhante ao glucagon (GLP-1) se destacaram como uma nova classe de medicamentos eficazes para o tratamento do diabetes tipo 2, oferecendo, além do controle glicêmico, uma significativa perda de peso. Esses medicamentos, como a semaglutida e a liraglutida, ganharam destaque também por sua utilização fora das diretrizes oficiais, com muitos pacientes os adotando para perda de peso. No entanto, um estudo recente trouxe à tona preocupações sobre os possíveis riscos de eventos adversos gastrointestinais relacionados ao uso desses agonistas do GLP-1, especialmente entre aqueles que utilizam esses fármacos especificamente para emagrecimento.
O Estudo e Seus Objetivos
Um estudo realizado com base nos dados de uma ampla amostra de 16 milhões de pacientes no período de 2006 a 2020, retirados do banco de dados PharMetrics Plus for Academics (IQVIA), teve como objetivo investigar os eventos adversos gastrointestinais em usuários de agonistas do GLP-1 para perda de peso. A pesquisa incluiu pacientes que faziam uso de semaglutida, liraglutida ou bupropiona-naltrexona (um agente comparador ativo para perda de peso, sem relação com os agonistas do GLP-1). Todos os pacientes selecionados não possuíam histórico de diabetes e tinham sido diagnosticados com obesidade nos 90 dias anteriores ou até 30 dias após o início do tratamento, o que garantiu que os agonistas do GLP-1 fossem utilizados exclusivamente para perda de peso e não para controle glicêmico.
O principal foco da pesquisa era determinar se o uso dos agonistas do GLP-1 para emagrecimento estava associado a maiores riscos de doenças biliares (como colecistite e colelitíase), pancreatite, obstrução intestinal e gastroparesia — condições já relatadas como potenciais efeitos colaterais em pacientes diabéticos.
Metodologia e Análise dos Dados
O estudo monitorou os pacientes a partir da primeira prescrição dos medicamentos em análise até o primeiro incidente relacionado a um dos eventos adversos de interesse, com base nos códigos da CID-9 ou CID-10. Foram ajustados modelos de risco para eliminar fatores de confusão comuns, como idade, sexo, uso de álcool, tabagismo, hiperlipidemia, cirurgias abdominais recentes e localização geográfica, identificados como potenciais fatores de risco.
Duas análises de sensibilidade foram realizadas: uma excluindo a hiperlipidemia, já que foi observado que mais usuários de semaglutida apresentavam essa condição, e outra incluindo pacientes sem histórico de obesidade, independentemente de terem diabetes. Apesar de a base de dados não conter informações sobre o índice de massa corporal (IMC) dos pacientes, foi utilizado o valor E (E-value) para examinar o impacto potencial de fatores de confusão não mensurados, como o próprio IMC, sugerindo que esse fator não alteraria significativamente os resultados.
Resultados
O estudo incluiu 4.144 usuários de liraglutida, 613 de semaglutida e 654 de bupropiona-naltrexona. Os dados mostraram que as taxas de incidência de eventos gastrointestinais adversos eram significativamente mais altas entre os usuários de agonistas do GLP-1 em comparação com o grupo que utilizava bupropiona-naltrexona.
Entre os principais achados, o risco de pancreatite foi significativamente maior entre os usuários de semaglutida e liraglutida (9,09 vezes maior) em comparação com os pacientes que faziam uso de bupropiona-naltrexona. Além disso, foi identificado um risco aumentado de obstrução intestinal (4,22 vezes maior) e gastroparesia (3,67 vezes maior) entre os usuários dos agonistas do GLP-1.
Por outro lado, o estudo não encontrou uma associação estatisticamente significativa entre o uso dos agonistas do GLP-1 e o aumento do risco de doenças biliares, como a colecistite e a colelitíase, em comparação com o grupo controle.
Discussão e Implicações
Os resultados deste estudo acendem um sinal de alerta para pacientes e profissionais de saúde quanto ao uso dos agonistas do GLP-1 para perda de peso. Embora esses medicamentos tenham se mostrado eficazes no controle do diabetes e na promoção da perda de peso, os riscos associados a eventos adversos graves, como pancreatite, gastroparesia e obstrução intestinal, não podem ser ignorados.
Esses efeitos adversos, ainda que considerados raros, devem ser ponderados com cuidado, especialmente para pacientes que utilizam os agonistas do GLP-1 com o único objetivo de emagrecer. Como os estudos iniciais sobre a eficácia desses medicamentos para a perda de peso foram de curta duração e envolveram amostras pequenas, eventos adversos mais raros e graves podem não ter sido capturados de forma adequada.
Além disso, é importante destacar que as limitações deste estudo incluem a ausência de informações detalhadas sobre o IMC dos pacientes e a incerteza sobre se todos os usuários dos agonistas do GLP-1 estavam utilizando os medicamentos exclusivamente para perda de peso. No entanto, mesmo considerando esses fatores, o estudo apresenta evidências robustas de que o uso prolongado de semaglutida e liraglutida pode aumentar significativamente o risco de complicações gastrointestinais.
Conclusão
Com o aumento do uso off-label dos agonistas do GLP-1 para perda de peso, é essencial que os pacientes sejam informados sobre os possíveis riscos associados a esses medicamentos. Profissionais de saúde devem considerar cuidadosamente o perfil de risco-benefício ao prescrever esses fármacos, especialmente em indivíduos sem diabetes, onde o balanço entre os benefícios e os riscos pode ser diferente. A conscientização sobre os efeitos adversos é crucial para uma decisão informada e para evitar complicações graves em pacientes que buscam esses medicamentos como solução para o emagrecimento.
Este estudo, ao evidenciar os riscos gastrointestinais associados ao uso dos agonistas do GLP-1, reforça a necessidade de uma abordagem mais cautelosa e de novos estudos que possam avaliar com maior precisão os impactos desses medicamentos em longo prazo, tanto para a perda de peso quanto para outras indicações.