Aptidão Cardiorrespiratória: Um Escudo Contra a Demência Mesmo com Predisposição Genética?

Estudo com mais de 60 mil pessoas revela que manter uma boa capacidade cardiorrespiratória pode reduzir em 35% o risco de demência, mesmo em quem tem alta predisposição genética. Descubra como o condicionamento físico pode proteger seu cérebro!

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Fábio H. M. Micheloto

2/16/20254 min read

A demência é uma das condições mais temidas no envelhecimento, afetando milhões de pessoas globalmente. Embora fatores genéticos desempenhem um papel importante, um estudo revolucionário publicado recentemente traz uma notícia esperançosa: a aptidão cardiorrespiratória (ACR) pode ser uma aliada poderosa na redução do risco de demência, mesmo para quem tem predisposição genética elevada.

Com base em dados do UK Biobank, uma das maiores bases de pesquisa em saúde do mundo, este estudo revela como manter o coração e os pulmões saudáveis pode ser a chave para preservar a saúde cerebral. Vamos explorar os detalhes dessa descoberta e entender como você pode agir para proteger seu cérebro.

O Que é Aptidão Cardiorrespiratória (ACR)?

A ACR refere-se à capacidade do coração, pulmões e sistema circulatório de fornecer oxigênio aos músculos durante a atividade física. É um indicador crucial de saúde geral e está diretamente ligada à prática regular de exercícios. Quanto maior a ACR, maior a eficiência do corpo em realizar atividades físicas e menor o risco de doenças crônicas, como problemas cardíacos e diabetes.

No entanto, a ACR tende a declinar com a idade – cerca de 3% a 6% por década a partir dos 20 anos, acelerando para mais de 20% por década após os 70 anos. Esse declínio está associado à perda de massa muscular, redução da função metabólica e aumento do risco de condições neurodegenerativas, como a demência.

O Estudo: Metodologia e Participantes

O estudo analisou dados de 61.214 adultos do UK Biobank, com idades entre 39 e 70 anos, acompanhados por uma mediana de 11,7 anos. A ACR foi medida por um teste de esforço submáximo, método seguro e acessível que estima a capacidade física sem exigir esforço máximo. Os participantes foram classificados em três grupos:

  • Baixa ACR

  • ACR moderada

  • Alta ACR

Além disso, os pesquisadores calcularam o risco poligênico para demência (uma pontuação que avalia a predisposição genética) usando dados de estudos genômicos anteriores.

Resultados Chave: Como a ACR Protege o Cérebro

  1. Melhor Função Cognitiva:

    • Participantes com alta ACR tiveram desempenho superior em testes de memória prospectiva, velocidade de processamento e função cognitiva global.

    • Cada aumento de 1 desvio padrão na ACR foi associado a uma melhora de 3% a 6% nas habilidades cognitivas.

  2. Redução do Risco de Demência:

    • Durante o acompanhamento, 0,9% dos participantes desenvolveram demência (553 casos), incluindo Alzheimer (223) e demência vascular (103).

    • Alta ACR reduziu o risco de demência em 40% e o risco de Alzheimer em 38%, comparado ao grupo com baixa ACR.

    • A demência vascular também mostrou tendência de redução, mas sem significância estatística, possivelmente devido ao menor número de casos.

  3. Atraso no Surgimento da Demência:

    • Indivíduos com alta ACR desenvolveram demência 1,5 anos mais tarde, em média, do que aqueles com baixa ACR.

    • Para o Alzheimer, o atraso foi ainda maior: 1,8 anos.

  4. Efeito Protetor Contra a Genética:

    • Mesmo entre pessoas com alto risco genético para demência, a alta ACR reduziu o risco em 35%.

    • Isso sugere que a aptidão física pode "neutralizar" parte do risco herdado geneticamente.

Por Que a ACR Funciona Como Protetora Cerebral?

Os mecanismos por trás dessa proteção incluem:

  • Melhor Fluxo Sanguíneo Cerebral: A ACR está ligada à saúde vascular, garantindo oxigênio e nutrientes adequados ao cérebro.

  • Redução de Inflamação e Estresse Oxidativo: Exercícios regulares diminuem marcadores inflamatórios associados à neurodegeneração.

  • Proteção Contra Proteínas Tóxicas: Estudos anteriores ligam alta ACR a níveis mais baixos de β-amiloide e proteína tau, associadas ao Alzheimer.

Como Melhorar Sua Aptidão Cardiorrespiratória

A boa notícia é que a ACR é modificável. Mesmo pequenas mudanças no estilo de vida podem fazer diferença:

  • Exercícios Aeróbicos: Caminhada rápida, natação, ciclismo ou dança por 150 minutos por semana.

  • Treino de Intervalo de Alta Intensidade (HIIT): Breves sessões de esforço intenso intercaladas com descanso.

  • Musculação: Fortalece a massa muscular, essencial para o metabolismo energético.

  • Atividades Diárias: Subir escadas, jardinagem ou brincar com crianças contam!

Limitações do Estudo

Embora robusto, o estudo tem pontos a considerar:

  1. População Relativamente Saudável: Participantes do UK Biobank tendem a ser mais saudáveis que a média da população.

  2. Causa e Efeito: O estudo é observacional – não prova que a ACR causa redução de risco, apenas mostra uma associação.

  3. Foco em Demências Comuns: Poucos casos de demência vascular limitaram conclusões específicas.

Implicações Práticas: O Que Isso Significa Para Você?

  1. Nunca é Tarde Para Começar: Mesmo quem tem predisposição genética pode se beneficiar de exercícios regulares.

  2. ACR Como Indicador de Saúde: Médicos podem usar testes submáximos para avaliar risco de demência em consultas de rotina.

  3. Políticas Públicas: Incentivar a atividade física em todas as idades pode reduzir custos com saúde e melhorar qualidade de vida.

Conclusão: Movimente-se Para Proteger Seu Cérebro

Este estudo reforça que a aptidão cardiorrespiratória não é apenas um marcador de saúde física, mas um escudo contra a demência. Em um mundo onde a genética parece ditarmos nosso destino, a capacidade de modificar riscos através do exercício é empoderadora.

Se você quer envelhecer com um cérebro saudável, a mensagem é clara: mexa-se! Cada passo, pedalada ou braçada não só fortalece seu coração, mas também protege suas memórias e sua independência.

Palavras-Chave:

  • Aptidão cardiorrespiratória

  • Demência

  • Risco genético

  • Prevenção de demência

  • Exercício físico

  • Saúde cerebral

  • UK Biobank

  • Alzheimer

  • Função cognitiva

  • Envelhecimento saudável

Fonte: https://bjsm.bmj.com/content/59/3/150