Aumento Global de AVC e Mortes Relacionadas Preocupam Especialistas: Mudanças Climáticas e Dietas Piores Entre os Fatores Principais

Estudo aponta que o AVC, terceira maior causa de mortes no mundo, está em ascensão, com mais de 7 milhões de óbitos por ano. Pesquisadores destacam o impacto das mudanças climáticas e maus hábitos alimentares na saúde global. O cenário é alarmante, mas pode ser revertido.

Fábio H. M. Micheloto

10/8/20244 min read

Um estudo global recente revelou um aumento preocupante no número de casos de acidente vascular cerebral (AVC) e mortes relacionadas. Em 2021, quase 12 milhões de pessoas sofreram um AVC, representando um aumento de 70% em comparação com os dados de 1990. O AVC agora é a terceira maior causa de mortes no mundo, responsável por mais de 7,3 milhões de óbitos anualmente. O estudo, conduzido por uma equipe liderada por Valery Feigin, da Auckland University of Technology, na Nova Zelândia, foi publicado na revista The Lancet Neurology e aponta para fatores evitáveis como principais culpados pelo aumento dos casos.

Mudanças Climáticas e Hábitos Alimentares

De acordo com os especialistas, as mudanças climáticas e dietas cada vez piores estão impulsionando as taxas globais de AVC. O aumento da temperatura e a deterioração da qualidade do ar são fatores que contribuem diretamente para o risco de AVC hemorrágico, um tipo menos comum, mas extremamente perigoso, que é responsável por cerca de 15% dos casos, mas por quase metade das mortes e incapacidades relacionadas ao AVC em todo o mundo.

A poluição do ar, exacerbada pelas mudanças climáticas, é apontada como um fator de risco tão perigoso quanto o tabagismo quando se trata de AVC hemorrágico. Com o aumento das temperaturas e a intensificação dos dias quentes e poluídos, a situação se agrava ainda mais, principalmente em países de baixa renda, onde os efeitos das mudanças climáticas são mais severos.

O Impacto das Dietas e Estilo de Vida

Além das mudanças climáticas, os pesquisadores destacam que dietas piores estão desempenhando um papel fundamental no aumento das taxas de AVC. O consumo excessivo de alimentos ricos em açúcares e bebidas adoçadas tem contribuído para o crescimento alarmante da obesidade, do colesterol elevado e da pressão arterial alta, todos fatores de risco para o AVC. O relatório também alerta para o aumento significativo de outros fatores de risco ao longo das últimas décadas:

  • O índice de massa corporal (IMC) elevado subiu 88% entre 1990 e 2021.

  • A exposição a altas temperaturas aumentou 72%.

  • Níveis elevados de açúcar no sangue cresceram 32%.

  • O consumo de bebidas adoçadas com açúcar aumentou 23%.

  • A inatividade física subiu 11%.

  • A pressão arterial sistólica elevada subiu 7%.

  • Dietas pobres em ácidos graxos poli-insaturados ômega-6 aumentaram 5%.

Esses fatores estão diretamente ligados ao aumento dos casos de AVC isquêmico, o tipo mais comum, causado pela obstrução de uma artéria que leva sangue ao cérebro. Embora o AVC isquêmico seja mais frequente, é o AVC hemorrágico que causa as maiores taxas de mortalidade.

Países Mais Atingidos

Catherine Johnson, coautora do estudo e pesquisadora-chefe no Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME) da Universidade de Washington, destaca que o aumento das taxas de AVC afeta de maneira desproporcional os países mais pobres, principalmente na Ásia e na África subsaariana. Nestas regiões, a falta de controle sobre fatores de risco, como a hipertensão e o aumento da obesidade, combinada com a ausência de serviços de prevenção e tratamento adequados, tem levado a uma perda significativa de vidas e de anos saudáveis.

Entre 1990 e 2021, o número de anos de vida saudável perdidos devido ao AVC aumentou em 32% globalmente. Johnson destacou que o aumento da diabetes tipo 2 em jovens adultos, especialmente em países em desenvolvimento, está contribuindo para esse cenário alarmante. Além disso, a falta de políticas de prevenção e tratamento eficazes nessas regiões agrava o problema.

Oportunidades de Mudança

Apesar dos números alarmantes, os especialistas acreditam que grande parte desse cenário pode ser revertida. “Com 84% da carga de AVC ligada a 23 fatores de risco modificáveis, há uma enorme oportunidade de alterar a trajetória do risco de AVC para as próximas gerações”, afirmou Johnson. Esses fatores de risco incluem poluição do ar, obesidade, hipertensão, sedentarismo, tabagismo e má alimentação – todos passíveis de intervenção.

A poluição do ar, por exemplo, pode ser combatida com ações urgentes relacionadas às mudanças climáticas. "A importância de medidas urgentes para o combate às mudanças climáticas e a redução da poluição do ar não pode ser subestimada", disse Johnson. Ela enfatizou que a adoção de políticas para melhorar a qualidade do ar e reduzir a exposição a fatores de risco como o açúcar no sangue elevado é crucial para combater o aumento de casos de AVC e doenças metabólicas como a diabetes.

Prevenção: A Chave para Reduzir as Mortes por AVC

A pesquisa reforça a mensagem de que o AVC é, em grande parte, evitável. Fatores de risco como pressão arterial elevada, colesterol alto, diabetes, obesidade, tabagismo e sedentarismo podem ser controlados por meio de mudanças no estilo de vida e intervenções médicas. A adoção de uma dieta equilibrada, rica em frutas, vegetais e gorduras saudáveis, como os ácidos graxos ômega-6, pode reduzir significativamente o risco de AVC.

A prática regular de atividades físicas e a manutenção de um peso saudável também são essenciais na prevenção do AVC. Especialistas sugerem que campanhas de conscientização e políticas públicas focadas em melhorar o acesso à alimentação saudável e à prática de exercícios podem ajudar a reduzir o número de casos de AVC em todo o mundo.

Conclusão

O aumento global das taxas de AVC e das mortes relacionadas é um problema urgente que está sendo impulsionado por uma combinação de fatores modificáveis, como mudanças climáticas e dietas piores. No entanto, o cenário pode ser revertido com ações rápidas e eficazes. O controle da poluição do ar, a promoção de estilos de vida saudáveis e a implementação de políticas públicas voltadas para a prevenção são caminhos promissores para conter o avanço dessa crise de saúde global.

Com a adoção de medidas preventivas e a conscientização sobre os fatores de risco, há uma grande oportunidade de reduzir as taxas de AVC e melhorar a qualidade de vida das populações mais vulneráveis. A ciência continua a apontar o caminho para um futuro mais saudável, mas cabe às nações e aos indivíduos adotarem as mudanças necessárias para garantir que o AVC deixe de ser uma das principais causas de morte no mundo.

Fonte: https://www.drugs.com/news/stroke-kills-7-million-worldwide-each-year-deaths-rising-121404.html