Câncer de ovário e genética: o que fazer se houver histórico familiar?

Entenda o papel da genética no câncer de ovário, os riscos associados a mutações hereditárias e as medidas preventivas recomendadas. Saiba como a remoção das trompas de falópio e ovários pode reduzir o risco.

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Fábio H. M. Micheloto

10/17/20244 min read

Câncer de ovário e genética: o que fazer se houver histórico familiar?

O câncer de ovário é uma doença desafiadora, e cerca de um quarto dos casos está relacionado a fatores genéticos. Isso significa que, para muitas mulheres, a predisposição ao câncer está inscrita no DNA, especialmente se houver histórico familiar. Mas o que você deve fazer se sua mãe ou irmã for diagnosticada com essa condição? A resposta pode começar com um simples teste genético.

O papel da genética no câncer de ovário

De acordo com especialistas, a primeira medida para quem possui histórico familiar de câncer de ovário é identificar o risco genético. O teste genético é o caminho para saber se há mutações nos genes que aumentam as chances de desenvolver a doença. Duas mutações genéticas, em particular, estão fortemente associadas ao câncer de ovário: BRCA1 e BRCA2.

Esses dois genes não apenas aumentam o risco de câncer de ovário, mas também de outras formas de câncer, como o de mama e o de próstata. Mulheres com mutação no gene BRCA1 possuem até 40% de risco de desenvolver câncer de ovário ao longo da vida, enquanto aquelas com mutação no BRCA2 têm uma chance aumentada em cerca de 20%. Com esses números, fica claro que a identificação precoce dessas mutações pode fazer uma grande diferença no acompanhamento médico e nas decisões de prevenção.

Medidas preventivas para reduzir o risco

Se o teste genético indicar a presença de uma mutação em BRCA1 ou BRCA2, uma das principais recomendações dos oncologistas é a remoção profilática das trompas de falópio e dos ovários. De acordo com a Dra. Shaina Bruce, oncologista ginecológica do Penn State Cancer Institute, esse procedimento é indicado para mulheres que já terminaram sua jornada reprodutiva, uma vez que a remoção dos ovários leva à menopausa cirúrgica.

Essa cirurgia tem sido uma medida efetiva para reduzir o risco de câncer em mulheres predispostas geneticamente. Contudo, ela também traz consequências significativas, como a redução da produção de estrogênio, o que pode impactar a saúde dos ossos e do coração, além de aumentar o risco de demência. Dessa forma, a decisão de remover os ovários deve ser cuidadosamente discutida entre paciente e médico, considerando todos os prós e contras.

O mistério das trompas de falópio

Uma descoberta importante da última década trouxe novas perspectivas para a prevenção do câncer de ovário. Pesquisas indicam que mais de 80% dos casos de câncer de ovário têm origem nas trompas de falópio, e não nos ovários, como se pensava anteriormente. Com base nisso, novas estratégias preventivas surgiram, como a remoção apenas das trompas de falópio (salpingectomia), mantendo os ovários por mais tempo para preservar a produção hormonal.

Estudos como o conduzido pelo Penn State Cancer Institute estão avaliando se a remoção precoce das trompas, com a retirada dos ovários em um segundo momento, pode ser tão eficaz quanto a remoção dos dois órgãos simultaneamente. Além disso, para mulheres que planejam realizar a cirurgia de laqueadura (conhecida popularmente como “laqueadura das trompas”), os médicos agora recomendam que as trompas sejam removidas por completo, reduzindo assim o risco futuro de câncer de ovário.

Cirurgia preventiva: procedimentos e recuperação

A cirurgia para remoção das trompas ou dos ovários é minimamente invasiva, geralmente realizada por meio de laparoscopia. De acordo com a Dra. Bruce, esse procedimento envolve três pequenas incisões e o tempo de recuperação é de algumas semanas. Embora seja uma cirurgia de baixo risco, muitas mulheres optam por adiar a operação até completarem a criação de sua família.

Em casos em que a cirurgia é adiada, especialmente em mulheres mais jovens com mutações BRCA, o acompanhamento médico é fundamental. Esse acompanhamento inclui exames regulares de ultrassom transvaginal e testes de sangue para monitorar os níveis de antígenos que indicam a presença de câncer. Para mulheres com mutação em BRCA1, o momento recomendado para a cirurgia preventiva é entre os 35 e 40 anos, enquanto para as portadoras de BRCA2, o intervalo se estende até os 40-45 anos.

Outros fatores de risco para o câncer de ovário

Embora a genética seja um fator significativo no desenvolvimento do câncer de ovário, existem outros elementos que também podem aumentar o risco. O uso de terapia de reposição hormonal após a menopausa, a ausência de gestações ao longo da vida e a presença de endometriose são alguns dos fatores que elevam a probabilidade de desenvolver essa condição. Mulheres que se enquadram em qualquer uma dessas categorias devem discutir com seus médicos a necessidade de exames preventivos mais frequentes.

Prevenção vale a pena

Mesmo com o impacto potencial da remoção profilática dos ovários e trompas, muitas mulheres podem hesitar diante dessa decisão. No entanto, a Dra. Bruce destaca que a cirurgia preventiva é menos invasiva e mais fácil de gerenciar do que os tratamentos intensivos necessários após o diagnóstico do câncer de ovário.

“O desconhecimento pode dar uma falsa sensação de tranquilidade”, ressalta Bruce. “Infelizmente, em oncologia, eu ouço isso com mais frequência do que gostaria. Porém, o conhecimento é uma ferramenta poderosa. Se você sabe que tem uma predisposição, geralmente há algo que pode ser feito para reduzir o risco.”

A mensagem final é clara: para as mulheres com histórico familiar de câncer de ovário, buscar aconselhamento genético e considerar medidas preventivas pode ser a chave para salvar vidas. Com os avanços na medicina e as novas estratégias de prevenção, é possível lidar de forma mais eficaz com o risco hereditário e proteger a saúde a longo prazo.

Fonte: https://www.drugs.com/news/ovarian-cancer-family-know-your-risks-121329.html?utm_source=ddc&utm_medium=email&utm_campaign=Daily+Mednews+++September+17++2024&utm_content=Ovarian+Cancer+in+the+Family++Know+Your+Risks&hash2=f5c4eab3d4a536b4a218625acfaf686b