Donanemabe no Tratamento Precoce do Alzheimer: Resultados Promissores do Estudo TRAILBLAZER-ALZ 2

O estudo TRAILBLAZER-ALZ 2, um ensaio clínico de fase 3, revelou que o donanemabe, um anticorpo monoclonal, pode retardar a progressão do Alzheimer em pacientes com sintomas iniciais. Saiba como essa terapia inovadora age contra as placas de β-amiloide no cérebro e quais são os benefícios e riscos associados. Leia este artigo completo para entender os detalhes dessa descoberta que pode mudar o futuro do tratamento do Alzheimer.

NEUROCIÊNCIAS

Fábio H. M. Micheloto

2/11/20254 min read

Introdução:


O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa devastadora, caracterizada pelo acúmulo de placas de β-amiloide e emaranhados de proteína tau no cérebro. Essas alterações levam à perda progressiva de memória, cognição e capacidade funcional. Nos últimos anos, a busca por tratamentos eficazes tem se concentrado em terapias que visam eliminar ou reduzir as placas de β-amiloide, uma das principais marcas patológicas da doença.

O donanemabe, um anticorpo monoclonal desenvolvido para atacar uma forma específica de β-amiloide, mostrou resultados promissores em estudos anteriores. Agora, o ensaio clínico de fase 3 TRAILBLAZER-ALZ 2 confirma que o tratamento com donanemabe pode retardar significativamente a progressão clínica do Alzheimer em pacientes com sintomas iniciais. Neste artigo, vamos explorar os detalhes desse estudo, seus resultados e o que isso significa para o futuro do tratamento da doença.

O Que é Donanemabe e Como Ele Funciona?


O donanemabe é um anticorpo monoclonal da classe imunoglobulina G1 (IgG1) que tem como alvo uma forma modificada e truncada da β-amiloide, presente apenas nas placas amiloides do cérebro. Ele se liga a essa forma específica da proteína e promove sua remoção por meio da fagocitose mediada por micróglias, células do sistema imunológico do cérebro.

Essa abordagem é diferente de outros tratamentos que visam a β-amiloide solúvel, pois o donanemabe atua diretamente nas placas já formadas, que são consideradas tóxicas e contribuem para a degeneração neuronal.

O Estudo TRAILBLAZER-ALZ 2: Metodologia e Objetivos


O TRAILBLAZER-ALZ 2 foi um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, realizado em 277 centros médicos e hospitais em 8 países. O estudo incluiu 1.736 participantes com Alzheimer sintomático inicial (comprometimento cognitivo leve ou demência leve) e evidência de patologia de β-amiloide e tau, confirmada por imagens de tomografia por emissão de pósitrons (PET).

Desenho do Estudo:
  • Os participantes foram randomizados em uma proporção de 1:1 para receber donanemabe (n = 860) ou placebo (n = 876).

  • O tratamento foi administrado por via intravenosa a cada 4 semanas por 72 semanas.

  • Os participantes do grupo donanemabe que atingiram critérios de conclusão da dose foram transferidos para placebo de forma cega.

População do Estudo:
  • 1.182 participantes (68,1%) tinham patologia tau baixa/média.

  • 552 participantes (31,8%) tinham patologia tau alta, uma população considerada mais difícil de tratar devido ao estágio mais avançado da doença.

Desfechos Principais:
  • A mudança na pontuação da Escala Integrada de Avaliação da Doença de Alzheimer (iADRS), que mede cognição e função diária (escore de 0 a 144, onde pontuações mais baixas indicam maior comprometimento).

  • A mudança na soma das caixas da Escala de Avaliação Clínica da Demência (CDR-SB), que avalia a gravidade da demência (escore de 0 a 18, onde pontuações mais altas indicam maior comprometimento).

Resultados: Donanemabe Retarda a Progressão do Alzheimer
Os resultados do estudo mostraram que o donanemabe foi eficaz em retardar a progressão clínica do Alzheimer em ambas as populações estudadas:
  1. População com Patologia Tau Baixa/Média:

  • A mudança média na pontuação iADRS foi de -6,02 no grupo donanemabe e -9,27 no grupo placebo (diferença de 3,25; P < 0,001).

  • A mudança média na pontuação CDR-SB foi de 1,20 no grupo donanemabe e 1,88 no grupo placebo (diferença de -0,67; P < 0,001).

  1. População Combinada (Tau Baixa/Média e Alta):

  • A mudança média na pontuação iADRS foi de -10,2 no grupo donanemabe e -13,1 no grupo placebo (diferença de 2,92; P < 0,001).

  • A mudança média na pontuação CDR-SB foi de 1,72 no grupo donanemabe e 2,42 no grupo placebo (diferença de -0,7; P < 0,001).

Esses resultados indicam que o donanemabe retardou significativamente a progressão da doença em comparação com o placebo, especialmente na população com patologia tau baixa/média.

Eventos Adversos: Riscos do Tratamento
Como em qualquer terapia, o donanemabe apresentou alguns efeitos colaterais:

  • Anormalidades de Imagem Relacionadas ao Amiloide (ARIA): Ocorreram em 24% dos participantes do grupo donanemabe (205 casos), com 52 sintomáticos. No grupo placebo, apenas 2,1% (18 casos) apresentaram ARIA, todos assintomáticos.

  • Reações Relacionadas à Infusão: Aconteceram em 8,7% dos participantes do grupo donanemabe (74 casos) e 0,5% no grupo placebo (4 casos).

  • Óbitos: Três mortes no grupo donanemabe e uma no grupo placebo foram consideradas relacionadas ao tratamento.

Conclusão: Um Marco no Tratamento do Alzheimer


O estudo TRAILBLAZER-ALZ 2 representa um avanço significativo no tratamento do Alzheimer, especialmente para pacientes em estágios iniciais da doença. O donanemabe mostrou-se eficaz em retardar a progressão clínica, com benefícios mais pronunciados na população com patologia tau baixa/média. No entanto, os riscos associados ao tratamento, como ARIA e reações à infusão, destacam a necessidade de monitoramento cuidadoso e seleção adequada dos pacientes.

Esses resultados abrem novas perspectivas para o futuro do tratamento do Alzheimer, reforçando a importância de intervenções precoces e terapias direcionadas às causas subjacentes da doença.

Palavras-Chave:

  • Donanemabe no tratamento do Alzheimer

  • Estudo TRAILBLAZER-ALZ 2

  • Terapia para Alzheimer com anticorpos monoclonais

  • Redução de placas de β-amiloide no cérebro

  • Benefícios e riscos do donanemabe

  • Tratamento precoce do Alzheimer

  • Progressão clínica do Alzheimer

Fonte: https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2807533?guestAccessKey=aa6434bd-a683-44c1-a758-068e24695010&utm_source=postup_jn&utm_medium=email&utm_campaign=article_alert-jama&utm_content=olf&utm_term=021025