Exercícios de resistência podem eliminar gordura corporal, mesmo sem perda de peso
Exercícios de resistência pesados podem fazer com que os níveis de gordura corporal caiam sem nenhuma perda de peso concomitante, indica um novo estudo em pequena escala.
Fábio H. M. Micheloto
9/24/20244 min read


Um estudo recente revelou resultados impressionantes sobre os efeitos de uma intensa atividade física no corpo humano, mostrando que a prática de exercícios pode ser mais eficaz do que a simples restrição calórica para promover a saúde e prevenir a obesidade. O estudo envolveu um grupo de onze homens de meia-idade que pedalaram 710 milhas (cerca de 1.140 quilômetros) em apenas sete dias. Durante o experimento, apesar de terem perdido apenas cerca de 1% do peso corporal total, os ciclistas conseguiram reduzir significativamente a gordura corporal e melhorar diversos indicadores de saúde.
Um dos principais achados do estudo foi a redução de 9% da gordura corporal total dos participantes, incluindo uma redução de quase 15% nos níveis de gordura visceral. A gordura visceral é a mais perigosa, pois se acumula ao redor dos órgãos vitais, aumentando o risco de doenças graves como diabetes tipo 2, doenças cardíacas e certos tipos de câncer. A capacidade de reduzir essa gordura em tão pouco tempo demonstra o impacto positivo que o exercício físico intenso pode ter na saúde.
Além da perda de gordura, os ciclistas também experimentaram melhorias notáveis em outros parâmetros de saúde. Houve uma redução de mais de 20% no colesterol total e uma queda de quase 40% nos níveis de triglicerídeos. Esses marcadores são importantes indicadores de risco para doenças cardiovasculares, e sua redução significa que os participantes diminuíram significativamente o risco de desenvolver essas condições. Além disso, as medições da pressão arterial também mostraram reduções substanciais, outro fator que contribui para a saúde do coração.
O estudo, liderado pelo professor de cinesiologia Jean-Pierre Despres, da Universidade Laval, na França, destacou a importância de um estilo de vida fisicamente ativo em vez de depender exclusivamente da restrição calórica para combater a obesidade e melhorar a saúde. Em outras palavras, o estudo fornece evidências de que o corpo humano foi projetado para ser fisicamente ativo, e não apenas para consumir o mínimo possível de calorias. Isso reforça a ideia de que a atividade física regular, especialmente em níveis intensos, pode ter um impacto mais duradouro e profundo na composição corporal e na saúde geral do que simplesmente comer menos.
Para realizar o estudo, os pesquisadores recrutaram 11 ciclistas recreativos do sexo masculino, com idades entre 50 e 66 anos, todos moradores da área metropolitana da Cidade de Quebec, no Canadá. Esses homens eram fisicamente ativos e conseguiam manter um ritmo médio de quase 19 milhas por hora (cerca de 30 km/h) em longas distâncias. Durante sete dias consecutivos, os ciclistas foram desafiados a percorrer um circuito de 64 milhas (aproximadamente 103 quilômetros) na costa sul do Rio St. Lawrence, em frente à Cidade de Quebec. Ao final do período, eles haviam acumulado 710 milhas de pedalada.
Para garantir que os participantes mantivessem seus níveis de energia, os pesquisadores permitiram que os ciclistas comessem e bebessem o quanto fosse necessário para manter o peso corporal. Eles tinham acesso a um buffet de café da manhã e almoço, além de jantar e lanches para levar para casa. Isso significa que, embora estivessem queimando grandes quantidades de calorias diariamente, eles estavam se alimentando o suficiente para não perder peso significativamente.
No início do estudo, os ciclistas tinham níveis de gordura visceral semelhantes aos de um grupo de controle formado por homens da mesma faixa etária. No entanto, os ciclistas apresentavam níveis significativamente mais baixos de gordura no fígado e gordura abdominal, o que já indicava um melhor perfil de saúde em relação aos seus pares.
Ao longo dos sete dias de pedalada, os ciclistas não apenas perderam gordura, mas também ganharam massa muscular. Os resultados mostraram um ganho de pouco mais de 1% de músculo magro, o que é importante para a manutenção de um metabolismo saudável. Essas descobertas reforçam a ideia de que a prática de exercícios de resistência, como o ciclismo, pode não apenas ajudar na queima de gordura, mas também no fortalecimento muscular, o que é essencial para a saúde a longo prazo.
Os pesquisadores concluíram que é fundamental ir além da simples perda de peso ao avaliar os benefícios dos exercícios físicos. Mudanças na composição corporal, como a redução da gordura visceral e o ganho de massa muscular, são indicadores mais relevantes para a saúde do que a variação do peso corporal total. O estudo, publicado no American Journal of Physiology-Endocrinology and Metabolism, destaca a importância de adotar um estilo de vida ativo para melhorar a saúde e combater a obesidade.
Este experimento extremo de ciclismo de estrada de 7 dias conduzido em ciclistas recreativos de meia-idade resultou em uma redução significativa na adiposidade visceral, apesar da perda mínima de peso. Além disso, esses ciclistas foram caracterizados por baixos níveis de gordura no fígado. Essas descobertas enfatizam mais uma vez a necessidade de ir além da perda de peso para avaliar completamente as mudanças na composição corporal induzidas por qualquer intervenção de exercício de resistência. Além disso, eles apoiam a importância de promover um estilo de vida fisicamente ativo em vez de restrição calórica na prevenção da obesidade, sendo esta última bastante difícil de seguir no atual ambiente socioeconômico, onde alimentos altamente processados e ricos em energia são onipresentes. Claro, o protocolo de exercícios atual não é realista para ser aplicado em uma escala muito grande, mas fornece evidências de que os humanos foram projetados para serem fisicamente ativos em vez de comer o mínimo possível.
Fonte: https://journals.physiology.org/doi/full/10.1152/ajpendo.00098.2024?utm_campaign=9.18.2024