Impacto da Posição Socioeconômica ao Longo da Vida na Dependência de Cuidados em Idosos: O Que um Estudo Global Revela

Descubra como mudanças na posição socioeconômica ao longo da vida influenciam a dependência de cuidados na terceira idade. Este artigo explora dados de 17 países e propõe estratégias para promover saúde e equidade.

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Fábio H. M. Micheloto

1/22/20253 min read

Com o envelhecimento populacional em ritmo acelerado, o cuidado a idosos dependentes tornou-se um desafio de saúde pública global. A incapacidade de realizar tarefas cotidianas básicas sem assistência, definida como dependência de cuidados, afeta milhões de pessoas, principalmente em idades avançadas. Embora já seja conhecido que desvantagens socioeconômicas aumentam os riscos dessa dependência, as dinâmicas ligadas à mobilidade socioeconômica ao longo da vida ainda não foram completamente exploradas. Este artigo se aprofunda nessa questão, destacando dados de um estudo longitudinal abrangente que envolveu 17 países e 103.282 participantes.

O Que é Dependência de Cuidados e Por Que É Importante

A dependência de cuidados refere-se à incapacidade de desempenhar atividades da vida diária (ADLs) e atividades instrumentais da vida diária (IADLs) sem ajuda, conforme critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS). ADLs incluem atividades essenciais, como alimentar-se e vestir-se, enquanto IADLs abrangem tarefas mais complexas, como gerenciar finanças ou preparar refeições. Com o avanço da idade, a prevalência da dependência de cuidados aumenta significativamente, o que sobrecarrega tanto as famílias quanto os sistemas de saúde pública.

Relação Entre Posição Socioeconômica e Dependência de Cuidados

O estudo analisou os efeitos da posição socioeconômica (PSE) em três estágios da vida:

  1. Infância: Educação dos pais.

  2. Início da vida adulta: Nível educacional do participante.

  3. Meia-idade/adulto tardio: Riqueza acumulada, excluindo moradia.

Os pesquisadores encontraram uma associação direta entre baixa PSE em qualquer fase da vida e maior probabilidade, gravidade e velocidade do declínio funcional.

Diferenças Socioeconômicas e Gênero

As disparidades foram mais acentuadas entre mulheres. Por exemplo, em idades entre 75 e 80 anos, mulheres com baixa PSE na infância apresentaram 18,10% mais probabilidade de desenvolver dependência de IADLs, comparado a 10,23% nos homens.

Curiosamente, as desigualdades em ADLs moderadas diminuíram na idade avançada, enquanto aquelas envolvendo dependências severas aumentaram progressivamente.

Mobilidade Socioeconômica: Um Caminho de Esperança ou Risco?

Além da PSE estática, o estudo investigou o impacto da mobilidade socioeconômica ao longo da vida. O resultado? A trajetória socioeconômica tem um papel crucial:

  • Decadência Socioeconômica: Participantes que começaram com alta PSE na infância, mas enfrentaram baixa PSE na idade adulta, apresentaram um risco dez vezes maior de dependência de IADLs (Odds Ratio: 18,26) e ADLs (Odds Ratio: 11,95).

  • Ascensão Socioeconômica: Por outro lado, pessoas que conseguiram superar desvantagens iniciais alcançando alta PSE na idade adulta tiveram um risco significativamente reduzido.

O Papel das Atividades Sociais

Entre vários fatores de risco analisados, a falta de atividades sociais destacou-se como o principal contribuinte para as desigualdades na dependência de cuidados, respondendo por até 66,63% das diferenças.

Isso aponta para o valor das conexões sociais como parte essencial de intervenções preventivas. A promoção de atividades comunitárias pode trazer benefícios amplos para a saúde física e mental, além de mitigar diferenças socioeconômicas.

O Que Pode Ser Feito?

Baseado nesses achados, estratégias para reduzir a dependência de cuidados devem focar em:

  1. Educação desde a Infância: Garantir acesso igualitário a oportunidades educacionais desde os primeiros anos de vida é crucial para combater disparidades de longo prazo.

  2. Atividades Sociais: Incentivar a participação em grupos sociais pode reduzir significativamente o risco de dependência funcional.

  3. Intervenções Personalizadas: Governos e organizações de saúde devem considerar programas direcionados às populações mais vulneráveis, especialmente mulheres e pessoas que experimentaram quedas significativas em sua PSE.

Benefícios Universais

Intervenções como as citadas não apenas melhoram a saúde de indivíduos em todo o espectro socioeconômico, mas também oferecem benefícios econômicos, reduzindo custos associados ao cuidado de longa duração.

Conclusão

As implicações do estudo são claras: mudanças na PSE ao longo da vida desempenham um papel significativo na dependência de cuidados em idades avançadas. Promover políticas públicas que fortaleçam a educação, a integração social e a igualdade pode aliviar a carga do cuidado a idosos globalmente.

Para um futuro mais equitativo, é essencial que as desigualdades sejam abordadas em todas as fases da vida. As descobertas mostram que cada etapa importa, e o investimento na educação e no bem-estar social desde cedo pode fazer toda a diferença na qualidade de vida da população idosa.

Se você deseja saber mais sobre os impactos da posição socioeconômica e explorar intervenções práticas, continue acompanhando nossos artigos. Nosso objetivo é proporcionar informação acessível e relevante, conectando ciência e saúde pública para melhorar a vida de todos.

Fonte: https://www.thelancet.com/journals/eclinm/article/PIIS2589-5370(24)00573-X/fulltext?dgcid=raven_jbs_etoc_feature_eclinm