Inaladores para Asma e o Impacto no Clima: Uma Pequena Ação com Grandes Consequências
Estudo revela como inaladores comuns podem estar contribuindo significativamente para o aquecimento global. Confira como essas pequenas puffs podem trazer grandes desafios ambientais e as alternativas possíveis.
Fábio H. M. Micheloto
10/16/20244 min read


Inaladores para Asma e o Impacto no Clima: Uma Pequena Ação com Grandes Consequências
Os inaladores para asma, usados diariamente por milhões de pessoas ao redor do mundo, podem estar causando um impacto ambiental muito maior do que se imaginava. Uma nova pesquisa publicada no Journal of the American Medical Association trouxe à tona um dado preocupante: os inaladores, especificamente os modelos mais comuns, contêm alguns dos gases de efeito estufa mais potentes conhecidos, o que tem consequências alarmantes para o meio ambiente.
De acordo com o estudo, cada dose de um inalador que utiliza propelente contribui com gases altamente nocivos à atmosfera, e a soma dessas emissões tem um impacto significativo no aquecimento global. Os pesquisadores descobriram que, ao final do uso de alguns inaladores, a quantidade de gases liberados pode ser comparável à poluição gerada por um carro percorrendo até 100 quilômetros. Considerando que mais de 70 milhões de inaladores são prescritos anualmente apenas nos Estados Unidos, essa emissão cumulativa excede a quantidade de poluentes produzida pelo consumo anual de eletricidade de 200 mil residências americanas.
O Problema dos Inaladores de Dose Controlada
Os inaladores de dose controlada, conhecidos como MDIs (Metered-Dose Inhalers), são amplamente prescritos no tratamento da asma. Esses dispositivos utilizam gases propelentes para garantir que o medicamento seja adequadamente inalado pelos pulmões do paciente. No entanto, o gás usado para impulsionar o medicamento, geralmente hidrofluorocarbono (HFC), é um dos mais prejudiciais ao meio ambiente. Os HFCs têm um potencial de aquecimento global milhares de vezes maior do que o dióxido de carbono, sendo responsáveis por aprisionar calor na atmosfera e, consequentemente, contribuindo para o aumento das temperaturas globais.
Segundo a pesquisa, cerca de 70% dos inaladores prescritos nos EUA em 2022 foram desse tipo, representando quase 98% das emissões totais associadas ao uso de inaladores no país. "Há uma grande variação na quantidade de emissões entre diferentes tipos de inaladores, e, infelizmente, nos Estados Unidos, ainda estamos prescrevendo principalmente os inaladores que mais prejudicam o clima," afirmou a Dra. Jyothi Tirumalasetty, professora assistente de medicina pulmonar, alergia e cuidados críticos da Universidade de Stanford e principal pesquisadora do estudo.
Outras Opções Mais Sustentáveis
Além dos inaladores de dose controlada, existem outras opções, como os inaladores de pó seco e os inaladores de névoa suave. Esses dispositivos não utilizam gases propelentes e, por isso, têm um impacto ambiental muito menor. Os inaladores de pó seco, por exemplo, contêm o medicamento em forma de pó, que é inalado pelo paciente sem a necessidade de gases adicionais. Já os inaladores de névoa suave transformam o medicamento líquido em vapor, também dispensando o uso de HFCs.
Embora sejam menos prejudiciais ao meio ambiente, essas opções costumam ser mais caras. De acordo com o estudo, o custo médio dos inaladores de pó seco e névoa suave pode ser quase o dobro dos inaladores de dose controlada. "O preço é, sem dúvida, um obstáculo para a transição para essas opções mais sustentáveis," destacou Tirumalasetty. Contudo, ela observa que o preço elevado nem sempre se traduz em um custo maior para os pacientes, já que muitos planos de saúde cobrem parte dessas despesas, tornando os valores desembolsados pelos usuários mais acessíveis.
Desafios e Soluções para o Futuro
Mesmo com os dados alarmantes sobre o impacto ambiental dos inaladores de dose controlada, os pesquisadores ressaltam que não há uma solução rápida para o problema. Tirumalasetty enfatiza a importância de garantir que os pacientes continuem a ter acesso a tratamentos eficazes. "Não queremos colocar os pacientes em uma situação em que eles não possam pagar pelos seus inaladores ou que estejam usando dispositivos que não controlam adequadamente sua condição," afirmou ela.
Uma das alternativas sugeridas pelos especialistas é a criação de materiais informativos claros e simples para que os pacientes possam fazer escolhas mais conscientes. "Nosso objetivo é fornecer folhetos que expliquem as opções de inaladores, comparando os custos e as emissões de cada um, para que as pessoas possam tomar uma decisão informada," disse a pesquisadora. Além disso, a colaboração entre governos, profissionais de saúde e empresas farmacêuticas será essencial para promover a adoção de tecnologias mais limpas no tratamento da asma.
O Papel dos Pacientes na Proteção do Meio Ambiente
Enquanto os cientistas e formuladores de políticas trabalham para encontrar soluções a longo prazo, os pacientes também podem contribuir para minimizar o impacto ambiental do uso de inaladores. Uma das recomendações dos pesquisadores é garantir o descarte correto dos dispositivos após o uso, uma vez que muitos inaladores ainda contêm gases remanescentes, que podem vazar lentamente para a atmosfera se descartados de maneira inadequada.
"Quando jogamos um inalador no lixo, os hidrofluorocarbonos que sobraram dentro do dispositivo continuam sendo liberados, agravando ainda mais o problema," alertou Tirumalasetty. Portanto, é crucial que os pacientes sigam as orientações corretas para o descarte de inaladores, muitas vezes disponíveis em farmácias ou centros de reciclagem especializados.
Conclusão
Os inaladores para asma são ferramentas indispensáveis para milhões de pessoas que dependem deles para controlar seus sintomas e melhorar a qualidade de vida. No entanto, a pesquisa recente deixa claro que o impacto ambiental desses dispositivos não pode ser ignorado. Compreender os diferentes tipos de inaladores e suas respectivas emissões é um passo importante para minimizar os danos ao meio ambiente, enquanto se busca um equilíbrio entre eficácia no tratamento e sustentabilidade.
A transição para opções mais ecológicas, embora mais cara em um primeiro momento, pode ser facilitada por mudanças nos sistemas de saúde e políticas públicas. E, até lá, tanto profissionais de saúde quanto pacientes podem desempenhar um papel fundamental ao considerar o impacto climático na escolha de seus tratamentos.
Essa reflexão sobre a conexão entre saúde e meio ambiente reforça a importância de soluções inovadoras e sustentáveis no combate às mudanças climáticas, sem comprometer o bem-estar de quem depende desses tratamentos.