Medicamentos GLP-1 como Ozempic demonstram eficácia na prevenção da progressão da esteatose hepática para cirrose, segundo estudo.
Pesquisa sugere que uso precoce de medicamentos GLP-1 reduz riscos associados à doença hepática gordurosa em pacientes com diabetes e obesidade.
Fábio H. M. Micheloto
10/14/20243 min read


Uma nova pesquisa revela que medicamentos agonistas de GLP-1, como o Ozempic (semaglutida), podem desempenhar um papel crucial na prevenção da progressão da doença hepática gordurosa não alcoólica associada à disfunção metabólica (MASLD) para cirrose hepática, condição que pode levar a complicações graves, incluindo câncer de fígado e necessidade de transplante.
O estudo, liderado pelo Dr. Fasiha Kanwal, professor de gastroenterologia no Baylor College of Medicine, em Houston, acompanhou veteranos com diabetes ao longo de décadas. Os resultados, publicados em 16 de setembro de 2023 no JAMA Internal Medicine, indicam que pacientes que tomaram medicamentos GLP-1 tiveram uma redução de 14% na progressão para cirrose em comparação com aqueles que usaram outros medicamentos para diabetes, como os inibidores de DPP-4.
GLP-1 reduz riscos em pacientes com diabetes e obesidade
A pesquisa analisou os dados de mais de 32.000 pacientes com diabetes e MASLD atendidos em hospitais da Veterans Affairs (VA). Entre os participantes, metade recebeu medicamentos GLP-1 como semaglutida (Ozempic/Wegovy), liraglutida (Saxenda) ou dulaglutida (Trulicity), enquanto a outra metade foi tratada com inibidores de DPP-4. Ao longo do período de acompanhamento, que se estendeu de 2006 até o final de 2022, os usuários de GLP-1 mostraram uma diminuição não apenas na progressão para cirrose, mas também uma redução de 11% nas taxas de mortalidade.
Esses efeitos benéficos começaram a ser observados após 18 a 24 meses de uso contínuo do medicamento. No entanto, o estudo ressaltou que o efeito protetor foi encontrado apenas em pacientes em estágios iniciais da MASLD; aqueles que já haviam desenvolvido cirrose não se beneficiaram da terapia com GLP-1.
Como os medicamentos GLP-1 atuam no fígado?
De acordo com os pesquisadores, os medicamentos agonistas de GLP-1 atuam de forma multifacetada: eles reduzem o peso corporal, melhoram o controle glicêmico e diminuem a inflamação. Esses efeitos combinados contribuem para a menor probabilidade de progressão da MASLD para a cirrose.
Além disso, estudos anteriores indicam que o uso de GLP-1 pode até mesmo reverter a doença hepática gordurosa em alguns casos, segundo o Dr. Kanwal e sua equipe.
Impacto na prevenção de câncer de fígado ainda é incerto
Embora a pesquisa tenha apontado os benefícios dos medicamentos GLP-1 na prevenção da progressão para cirrose, o número de casos de câncer de fígado observados durante o estudo não foi suficiente para determinar se esses medicamentos também podem reduzir os riscos de desenvolvimento dessa condição.
Novos tratamentos GLP-1 em desenvolvimento
A pesquisa destaca o potencial de novos medicamentos GLP-1 que estão em fase de desenvolvimento. Em 2023, a farmacêutica Eli Lilly divulgou resultados promissores de seu medicamento experimental retatrutida, que mostrou reduzir significativamente a gordura no fígado de pacientes obesos. Outro medicamento, o survodutide, também demonstrou melhorias na saúde hepática em 83% dos pacientes com esteatose hepática, de acordo com um estudo publicado no New England Journal of Medicine em junho de 2023.
Com base nessas descobertas, o uso de agonistas de GLP-1 pode se tornar uma abordagem cada vez mais relevante no tratamento de doenças hepáticas gordurosas, particularmente em indivíduos com fatores de risco como diabetes e obesidade. A administração precoce desses medicamentos pode ser crucial para impedir a evolução para condições hepáticas mais graves e, potencialmente, salvar vidas.
Palavras-chave: doença hepática gordurosa, cirrose hepática, GLP-1, Ozempic, diabetes, obesidade, semaglutida, pesquisa científica, saúde do fígado, tratamento de cirrose.