Medicamentos Para O Câncer: Como A Falta De Diversidade Nos Ensaios Clínicos Afeta Pacientes

Entenda como medicamentos inovadores para o câncer estão moldando os tratamentos modernos, mas enfrentam desafios em oferecer benefícios iguais para todos os pacientes. Descubra como a falta de diversidade em ensaios clínicos prejudica populações raciais e étnicas, especialmente pacientes negros, e o que pode ser feito para mudar este cenário. Este artigo explora o impacto dos medicamentos de precisão para o câncer e estratégias para garantir acesso equitativo a tratamentos que salvam vidas.

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Fábio H. M. Micheloto

1/18/20253 min read

Quem Se Beneficia Com Os Novos Medicamentos Para O Câncer?

Nos últimos anos, os avanços em terapias direcionadas revolucionaram a maneira como tratamos o câncer, empurrando os limites entre vida e morte para muitos pacientes. Essas terapias, muitas vezes descritas como medicamentos para o câncer de precisão, miram mutações genéticas específicas que impulsionam o crescimento dos tumores. Contudo, um novo estudo publicado na revista JAMA Oncology levanta uma questão preocupante: esses avanços não estão beneficiando igualmente as diversas populações raciais e étnicas nos Estados Unidos.

A Conexão Entre Genética e Terapia Para O Câncer

Cerca de metade dos medicamentos para o câncer aprovados nas últimas décadas têm como alvo mutações genéticas específicas. No entanto, essas aprovações são baseadas em estudos clínicos compostos majoritariamente por pacientes brancos. Essa discrepância está criando lacunas significativas no acesso a tratamentos entre pessoas de diferentes origens raciais e étnicas, especialmente entre pacientes de ascendência africana.

De acordo com Kanika Arora, principal autora e bióloga computacional do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, no início da era das terapias de precisão, as diferenças no benefício entre os grupos eram mínimas. No entanto, à medida que novos medicamentos foram sendo aprovados, as desigualdades começaram a se ampliar.

Dados Genéticos Desiguais e Impactos Práticos

Os conjuntos de dados genéticos usados para prever a resposta de tumores aos medicamentos também refletem essa disparidade. Mais de 80% das amostras genéticas utilizadas para identificar biomarcadores vêm de pacientes autodeclarados brancos, predominantemente de ascendência europeia. Segundo a pesquisadora Debyani Chakravarty, isso acontece porque pacientes brancos têm maior probabilidade e possibilidade de participar de estudos clínicos históricos. Essa realidade afeta diretamente o desenvolvimento e a eficácia de medicamentos de precisão.

Chakravarty alerta que os esforços para descobrir biomarcadores e criar medicamentos baseados nesses dados acabam excluindo outras populações que não estão adequadamente representadas. Como consequência, enquanto pacientes brancos têm maior acesso aos novos tratamentos, pacientes negros enfrentam barreiras significativas.

Desigualdades Na Elegibilidade Para Terapias Inovadoras

O estudo avaliou dados de cerca de 59.500 pacientes com câncer, todos submetidos a análises genéticas. O objetivo era identificar mutações cancerígenas em 505 genes conhecidos por estarem associados à doença. Os resultados mostraram que a probabilidade de ser elegível para um tratamento com medicamentos de precisão variava substancialmente de acordo com a ascendência do paciente:

  • Pacientes de ascendência europeia tiveram um aumento de 9,1 vezes na elegibilidade para terapias direcionadas entre 2012 e 2023.

  • Pacientes de ascendência asiática oriental tiveram um aumento de 8,5 vezes.

  • Pacientes de ascendência asiática do sul apresentaram um aumento de 6,8 vezes.

  • Pacientes de ascendência africana registraram um aumento de apenas 6 vezes, o mais baixo entre os grupos avaliados.

A partir de 2019, os pesquisadores identificaram uma diferença ainda mais significativa. Pacientes de ascendência africana tiveram menor elegibilidade para os medicamentos aprovados pela FDA em comparação com outros grupos.

Por Que Isso Importa?

A falta de diversidade nos ensaios clínicos não é apenas uma questão ética, mas também afeta diretamente a equidade no acesso a cuidados de saúde de ponta. Medicamentos para o câncer baseados em dados predominantemente de pacientes brancos podem não ter a mesma eficácia ou até apresentar menos benefícios para pessoas de diferentes origens genéticas.

Essa lacuna representa um desafio crucial, especialmente porque pacientes negros historicamente enfrentam desigualdades em outros aspectos da saúde, como diagnóstico tardio, acesso reduzido a tratamentos e piores desfechos clínicos.

Como Promover Um Acesso Mais Igualitário Aos Medicamentos Para O Câncer?

Os autores do estudo sugerem que as empresas farmacêuticas e instituições de pesquisa priorizem a inclusão de populações diversas em seus ensaios clínicos. Essa estratégia ajudará a garantir que os avanços em terapias de precisão beneficiem igualmente todas as populações, independentemente de sua origem racial ou étnica.

Além disso, políticas públicas devem promover a igualdade no acesso a diagnósticos genéticos e tratamentos de última geração. Também é fundamental aumentar a conscientização sobre a importância da representatividade nos estudos clínicos para que médicos, pacientes e formuladores de políticas compreendam o impacto dessas disparidades.

Conclusão

Os medicamentos para o câncer representam um avanço extraordinário no tratamento da doença, mas a lacuna no acesso entre diferentes grupos raciais é um problema que precisa ser resolvido. Investir em maior diversidade nos ensaios clínicos e implementar políticas que promovam a equidade no atendimento à saúde são passos cruciais para garantir que os benefícios dessas inovações sejam amplamente compartilhados.

Este é o momento para que comunidades científicas, empresas farmacêuticas e governos se unam em um esforço colaborativo para corrigir as desigualdades e oferecer um futuro mais saudável para todos.

Fonte: https://www.drugs.com/news/so-benefits-new-cancer-123320.html