Medicamentos para Obesidade: Como a Ciência dos Fármacos Antiobesidade Pode Transformar Vidas e Reduzir Riscos à Saúde
Descubra como medicamentos antiobesidade estão revolucionando o tratamento do excesso de peso ao atuar em processos biológicos que afetam o apetite. Conheça os efeitos, benefícios e resultados dos tratamentos que vão além das mudanças no estilo de vida.
FARMACOLOGIACARDIOLOGIA
Fábio H. M. Micheloto
11/10/20245 min read


A obesidade é um problema de saúde pública crescente, afetando milhões de pessoas ao redor do mundo. Estima-se que aproximadamente 19% das mulheres e 14% dos homens vivam com obesidade, condição que eleva significativamente o risco de doenças como diabetes tipo 2, hipertensão e dislipidemias. Neste cenário, os medicamentos antiobesidade, ou AOMs (Anti-Obesity Medications), surgem como um recurso promissor, desempenhando papel crucial para complementar intervenções no estilo de vida. Esses medicamentos agem modificando processos biológicos associados ao apetite, levando a uma perda de peso mais significativa e melhorando, consequentemente, diversos parâmetros de saúde.
O Papel dos Medicamentos Antiobesidade
Os AOMs são projetados para atuar em diferentes mecanismos de controle do apetite e da absorção de nutrientes, sendo indicados em combinação com uma dieta balanceada e prática de atividades físicas. Embora o controle de peso saudável dependa fundamentalmente de mudanças no estilo de vida, os AOMs contribuem para uma abordagem mais eficiente, ajudando a controlar a fome e, muitas vezes, reduzir complicações associadas à obesidade.
O objetivo de um tratamento antiobesidade é não apenas a redução de peso, mas também a melhoria de condições de saúde relacionadas, como diabetes tipo 2, hipertensão e dislipidemia. Além disso, esses medicamentos são divididos em categorias conforme seu mecanismo de ação, permitindo que o tratamento seja personalizado de acordo com a necessidade e o perfil de saúde de cada paciente.
Principais Classes de Medicamentos Antiobesidade e Seus Mecanismos
Os AOMs podem ser classificados em três principais categorias, de acordo com o modo como agem no organismo: aqueles que interferem na absorção de nutrientes, os que agem diretamente no sistema nervoso central para regular o apetite e os medicamentos hormonais, que simulam hormônios relacionados ao controle do apetite e à saciedade.
1. Inibidores da Absorção de Nutrientes
Um dos principais representantes dessa categoria é o Orlistate. Esse medicamento age diretamente no trato gastrointestinal, impedindo a absorção de gorduras. Como resultado, cerca de 30% das gorduras ingeridas na alimentação não são absorvidas, sendo eliminadas nas fezes. Este processo, embora eficaz, pode provocar efeitos colaterais gastrointestinais em mais de 25% dos usuários, incluindo manchas oleosas nas fezes e urgência para evacuar.
Apesar desses efeitos adversos, estudos clínicos mostram que o uso de Orlistate resulta em uma perda de peso média de 3,1% a mais em comparação ao placebo, com base em 52 ensaios clínicos randomizados que envolveram 16.964 participantes. O Orlistate é indicado para pessoas que precisam de um método adicional para controlar o peso, especialmente aquelas com dificuldades de adesão a outras formas de perda de peso.
2. Medicamentos que Atuam no Sistema Nervoso Central
Outra classe importante de medicamentos antiobesidade é composta por aqueles que agem no sistema nervoso central para controlar o apetite. Entre eles estão combinações de fentermina-topiramato e naltrexona-bupropiona. Esses medicamentos ajudam a reduzir a fome e aumentar a sensação de saciedade ao atuar diretamente em regiões do cérebro responsáveis pela regulação do apetite.
A combinação de fentermina e topiramato mostrou-se altamente eficaz em ensaios clínicos, com uma redução de peso média de 8,0% a mais em comparação ao placebo, conforme cinco ensaios com 3.407 participantes. Por outro lado, a naltrexona-bupropiona demonstrou uma redução de 4,1% a mais no peso em comparação ao placebo, com base em seis ensaios que envolveram 9.949 participantes. No entanto, esses medicamentos podem causar efeitos colaterais como constipação, que afeta aproximadamente 20% dos usuários, e outros efeitos variáveis, como náuseas e parestesias.
Esses medicamentos são uma opção para pacientes que buscam um método adicional de controle de apetite, especialmente aqueles que já tentaram métodos convencionais de perda de peso sem obter resultados satisfatórios.
3. Medicamentos Baseados em Hormônios
Os medicamentos baseados em hormônios simulam substâncias que regulam a saciedade e o apetite no organismo. Entre eles, destacam-se liraglutida, semaglutida e tirzepatida, que imitam hormônios enteropancreáticos responsáveis pela sensação de saciedade. Esses medicamentos não apenas reduzem o apetite, mas também oferecem benefícios cardiovasculares, ajudando a melhorar o controle de doenças metabólicas relacionadas à obesidade.
Em estudos clínicos, a liraglutida apresentou uma redução média de peso de 4,7% a mais em comparação ao placebo, de acordo com 18 ensaios com 6.321 participantes. Já a semaglutida resultou em uma perda de peso de 11,4% a mais em relação ao placebo em cinco ensaios com 4.421 participantes. A tirzepatida, uma medicação mais recente, mostrou-se ainda mais eficaz, com uma redução média de 12,4% a mais no peso em comparação ao placebo, conforme seis ensaios com 1.972 participantes.
Contudo, é importante ressaltar que esses medicamentos podem ter efeitos colaterais como náuseas (28%-44%), diarreia (21%-30%) e constipação (11%-24%), que variam conforme a resposta individual de cada paciente ao tratamento.
Comparação da Eficácia dos Medicamentos Antiobesidade
Meta-análises recentes apontam que a eficácia dos AOMs varia significativamente de acordo com o tipo de medicamento e sua composição. A tirzepatida, por exemplo, destaca-se como uma das opções mais potentes, proporcionando uma perda de peso superior em comparação aos demais tratamentos. Ela é seguida pela semaglutida e pela combinação fentermina-topiramato. Já o Orlistate, embora menos potente em termos de perda de peso, continua sendo uma opção relevante, especialmente para pacientes que não desejam utilizar medicamentos que atuem no sistema nervoso central.
Além disso, cada tipo de medicamento é avaliado com base na redução média de peso em comparação ao placebo, tornando possível a escolha da melhor opção conforme o perfil e as condições de saúde do paciente.
Conclusões e Perspectivas Futuras
A obesidade é um problema complexo, e seu tratamento eficaz requer uma abordagem multidisciplinar, que inclui tanto a modificação de hábitos quanto o uso de medicamentos que possam contribuir para um controle de peso duradouro e sustentável. Os medicamentos antiobesidade surgem como ferramentas adicionais e são especialmente úteis para pacientes com obesidade severa ou para aqueles que enfrentam dificuldades em manter a perda de peso a longo prazo.
Os AOMs, além de promoverem a perda de peso, trazem benefícios importantes para o tratamento de condições relacionadas, como o diabetes tipo 2, hipertensão e dislipidemia, que frequentemente acompanham a obesidade. Com o avanço da ciência e o desenvolvimento de novas terapias hormonais e centradas no sistema nervoso, espera-se que mais opções se tornem disponíveis, oferecendo tratamentos mais personalizados e seguros.
No entanto, é essencial que o uso de AOMs seja sempre acompanhado por uma equipe médica, pois os efeitos adversos e as respostas ao tratamento variam de acordo com o organismo de cada paciente. Somente com o acompanhamento adequado é possível obter os melhores resultados e garantir uma melhora na qualidade de vida a longo prazo.
Com a crescente prevalência da obesidade em escala mundial, o desenvolvimento e a acessibilidade desses medicamentos se tornam fundamentais para reduzir a carga da doença e seus impactos na saúde pública. À medida que novos estudos avançam, o futuro do tratamento da obesidade parece cada vez mais promissor, oferecendo esperança para milhões de pessoas ao redor do mundo.