Mortes Relacionadas ao Calor Dobram nos EUA em Meio ao Ano Mais Quente da História
Um estudo publicado na JAMA Network Open revela que as mortes relacionadas ao calor mais que dobraram nos Estados Unidos nas últimas duas décadas, saltando de 1.100 em 1999 para mais de 2.300 em 2023. O aumento está diretamente ligado à escalada das temperaturas globais, com 2023 registrado como o ano mais quente da história. Especialistas alertam que as mudanças climáticas continuarão a elevar esses números, destacando a necessidade urgente de políticas de mitigação e adaptação ao calor extremo.
9/24/20244 min read


O número de mortes relacionadas ao calor nos Estados Unidos tem aumentado de forma alarmante nos últimos anos, segundo um estudo publicado na JAMA Network Open. O estudo revelou que as fatalidades associadas a temperaturas extremas mais que dobraram nas últimas duas décadas e meia, subindo de aproximadamente 1.100 mortes em 1999 para mais de 2.300 em 2023. Esse crescimento significativo reflete a escalada contínua das temperaturas globais e as consequências devastadoras das mudanças climáticas, com o maior número de mortes ocorrendo justamente em 2023, que foi o ano mais quente já registrado na história moderna.
Os pesquisadores utilizaram dados da plataforma WONDER dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, que combina contagens de óbitos e estimativas populacionais. Entre 1999 e 2023, cerca de 21.500 pessoas perderam a vida em decorrência de causas relacionadas ao calor. Ao ajustar esses dados pela idade, os pesquisadores observaram um aumento de 63% nas taxas de mortalidade ao longo desse período. Um dos maiores picos foi registrado entre 2016 e 2023, quando a taxa ajustada por idade (AAMR) subiu em 17%. Esse salto acentuado coincide com os anos mais quentes já documentados, reforçando a relação direta entre o aquecimento global e o impacto na saúde pública.
Embora os números já sejam alarmantes, os pesquisadores alertam que o total de mortes relacionadas ao calor pode estar subestimado. Em muitos casos, as fatalidades provocadas por temperaturas extremas podem ser classificadas de forma incorreta, sendo atribuídas a outras causas, como doenças cardiovasculares ou respiratórias, que são exacerbadas pelo calor. Essa subnotificação dificulta a real compreensão da magnitude da crise. Mesmo assim, os dados disponíveis já indicam uma tendência preocupante, e especialistas preveem que, à medida que as temperaturas continuarem a subir devido às mudanças climáticas, o número de mortes ligadas ao calor deve crescer ainda mais.
Outro estudo, também publicado na JAMA Network Open, analisou as lesões e fatalidades causadas por eventos climáticos extremos nos EUA, como tempestades severas. De acordo com o estudo, entre 2006 e 2021, ocorreram cerca de 11.100 tempestades, das quais aproximadamente 2% foram classificadas como grandes desastres, ou seja, eventos com pelo menos 10 mortes. Embora relativamente raros, esses grandes eventos climáticos resultaram em aproximadamente 2.100 mortes, representando cerca de 22% do total de 9.800 mortes associadas a tempestades nesse período.
Esses dados reforçam a ideia de que os eventos climáticos extremos, como ondas de calor e tempestades intensas, estão se tornando mais frequentes e letais, principalmente em função das mudanças climáticas. As temperaturas globais estão subindo em um ritmo sem precedentes, com 2023 sendo o ano mais quente já registrado desde 1850, quando começaram os registros confiáveis. Isso é particularmente preocupante, pois estudos recentes demonstram que a exposição ao calor extremo está diretamente associada à mortalidade, variando de acordo com fatores como idade, sexo, raça e etnia.
Pessoas idosas, por exemplo, são mais vulneráveis aos efeitos do calor, devido a fatores como a menor capacidade de regulação térmica e a prevalência de condições de saúde preexistentes. Da mesma forma, populações de baixa renda, que muitas vezes vivem em áreas urbanas densamente povoadas com menor acesso a ar-condicionado ou espaços verdes, enfrentam riscos maiores durante as ondas de calor. Além disso, estudos indicam que pessoas de minorias raciais e étnicas podem estar desproporcionalmente expostas ao calor extremo, seja devido às condições de moradia ou ao trabalho em ambientes externos.
Os pesquisadores enfatizam que, embora o aumento das mortes relacionadas ao calor seja uma tendência global, faltam análises detalhadas das tendências específicas nos EUA até 2023. Este estudo preenche essa lacuna, examinando a evolução das taxas de mortalidade relacionadas ao calor ao longo de mais de duas décadas. As conclusões ressaltam a necessidade urgente de políticas públicas eficazes para mitigar os impactos das mudanças climáticas e proteger as populações mais vulneráveis.
Entre as medidas que podem ser adotadas estão a ampliação do acesso a sistemas de alerta precoce, que informem a população sobre ondas de calor iminentes, e a criação de centros de resfriamento em áreas urbanas para oferecer refúgio às pessoas durante os períodos de calor extremo. Investir em infraestrutura verde nas cidades, como a criação de mais parques e áreas arborizadas, também pode ajudar a diminuir as temperaturas locais e reduzir o impacto do calor nas comunidades. Além disso, a promoção de práticas agrícolas mais sustentáveis e políticas de redução das emissões de gases de efeito estufa são fundamentais para desacelerar o aquecimento global e seus efeitos desastrosos sobre a saúde humana.
Em suma, o estudo deixa claro que o impacto do calor na mortalidade está crescendo rapidamente nos EUA e em todo o mundo, refletindo os efeitos amplamente documentados das mudanças climáticas. Com o aquecimento global avançando, ações imediatas e coordenadas são essenciais para proteger vidas e reduzir os danos causados por essa ameaça crescente.