Prevenção do Câncer Gástrico: O Papel do Teste de Antígeno para Helicobacter pylori em Programas de Triagem Populacional

Conheça os resultados de um estudo clínico inovador realizado em Taiwan, que analisou o impacto do teste de antígeno fecal para Helicobacter pylori em combinação com o teste imunológico fecal (FIT) na prevenção do câncer gástrico. Esta abordagem integrada poderia realmente reduzir a incidência e mortalidade dessa forma de câncer? Descubra como essa pesquisa pioneira pode transformar o modo como encaramos a triagem de câncer gástrico.

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Fábio H. M. Micheloto

11/11/20245 min read

O desafio da prevenção do câncer gástrico: avanços e estratégias integradas

O câncer gástrico permanece como uma das principais causas de morte no mundo, sendo o quinto tipo de câncer mais comum e o terceiro em termos de mortalidade. A prevenção é um desafio global, principalmente porque muitos casos são diagnosticados em estágios avançados, limitando as opções de tratamento e as taxas de sobrevida. O Helicobacter pylori (H. pylori), bactéria altamente prevalente e associada a diversas complicações gastrointestinais, é um importante fator de risco para o desenvolvimento do câncer gástrico. Por isso, um dos enfoques recentes tem sido investigar como o combate a essa infecção pode prevenir o surgimento desse tipo de câncer.

Em Taiwan, uma equipe de pesquisadores decidiu explorar a eficácia do teste de antígeno fecal para H. pylori combinado com o teste imunológico fecal (FIT), já utilizado para triagem de câncer colorretal, para identificar o impacto dessa estratégia na incidência e mortalidade do câncer gástrico.

Objetivo do estudo: como o teste de H. pylori pode impactar a prevenção?

O principal objetivo do estudo foi avaliar se a combinação do teste de antígeno fecal para H. pylori com o FIT, para detecção de sangue oculto nas fezes, poderia reduzir efetivamente a taxa de novos casos e mortalidade por câncer gástrico. Essa pesquisa clínica aleatorizada envolveu 152.503 participantes, com idades entre 50 e 69 anos, em um programa de triagem populacional que ocorre a cada dois anos em Taiwan. Os participantes foram divididos em dois grupos: um convidado a realizar apenas o FIT e o outro a realizar tanto o FIT quanto o teste de H. pylori.

Ao longo do estudo, a equipe monitorou tanto a adesão aos testes quanto os resultados em termos de incidência e mortalidade do câncer gástrico em ambos os grupos.

Resultados principais e suas implicações na triagem de câncer gástrico

Após análise estatística detalhada dos dados obtidos, os resultados não demonstraram diferenças significativas na incidência ou mortalidade por câncer gástrico entre o grupo submetido ao teste combinado (FIT e teste de H. pylori) e o grupo que realizou apenas o FIT. A incidência de câncer gástrico foi de 0,032% no grupo de triagem combinada, enquanto o grupo FIT sozinho apresentou uma taxa de 0,037%. Em relação à mortalidade, os resultados foram 0,015% no grupo com teste combinado e 0,013% no grupo apenas com FIT.

Esses dados sugerem que, em termos gerais, a inclusão do teste para H. pylori na triagem regular para câncer colorretal com FIT não resultou em uma redução significativa da incidência ou mortalidade por câncer gástrico.

A importância da adesão e do tempo de acompanhamento

Apesar dos resultados iniciais, os pesquisadores observaram que a adesão ao programa de triagem apresentou variação significativa entre os dois grupos. No grupo combinado, que realizou tanto o FIT quanto o teste de H. pylori, a adesão foi de 49,6%, enquanto no grupo apenas FIT foi de 35,7%. Além disso, foram registrados diferentes tempos de acompanhamento entre os grupos, o que poderia influenciar na interpretação dos resultados.

Quando ajustadas as diferenças na adesão e no tempo de seguimento, a análise pós-hoc mostrou que o grupo submetido à triagem combinada teve uma menor taxa de incidência de câncer gástrico, mas a mortalidade permaneceu inalterada. Esses achados sugerem que, embora o teste de H. pylori possa contribuir para a redução de novos casos de câncer gástrico, o impacto sobre a mortalidade ainda não é claro, necessitando de mais pesquisas para melhor compreender sua eficácia.

Tratamento e efeitos adversos: impacto na população

Entre os participantes do estudo, cerca de 38,5% apresentaram resultados positivos para H. pylori, dos quais 71,4% receberam tratamento com antibióticos. A erradicação da bactéria foi confirmada em 91,9% desses casos. Contudo, 2,1% dos participantes tratados relataram efeitos adversos, como dor abdominal e diarreia, enquanto 0,8% relataram sintomas de dispepsia e falta de apetite. Esses efeitos adversos, embora considerados leves, reforçam a necessidade de monitoramento cuidadoso no tratamento para erradicação do H. pylori.

Limitações do estudo e perspectivas futuras

Este estudo enfrentou algumas limitações, como a variabilidade no tempo de seguimento e diferenças nos níveis de participação entre os grupos, que podem ter influenciado os resultados. Além disso, a pesquisa foi realizada exclusivamente em Taiwan, o que levanta a questão da aplicabilidade dos resultados em outras populações com perfis epidemiológicos distintos.

No entanto, os resultados fornecem uma base valiosa para futuras investigações. O impacto na incidência de câncer gástrico, mesmo que modesto, sugere que o teste de H. pylori pode ter um papel preventivo, especialmente em populações de alto risco. Pesquisas futuras poderão explorar o impacto a longo prazo e em diferentes contextos geográficos, buscando melhores estratégias de triagem que reduzam não apenas a incidência, mas também a mortalidade.

Conclusão: o que o estudo revela sobre a triagem de H. pylori e a prevenção do câncer gástrico?

O estudo conduzido em Taiwan fornece insights importantes sobre o papel do teste de H. pylori na triagem de câncer gástrico. Embora a combinação do teste de H. pylori com o FIT não tenha reduzido significativamente a incidência ou mortalidade do câncer gástrico, ele abriu caminho para discussões sobre a importância de abordagens preventivas mais abrangentes.

O estudo aponta para a necessidade de adaptações na triagem de câncer gástrico e reforça a importância de seguir investigando a relação entre o H. pylori e o câncer gástrico em diferentes populações. Ao ajustar as diferenças de adesão e tempo de acompanhamento, verificou-se um leve efeito na redução de novos casos de câncer, sugerindo que a detecção e o tratamento do H. pylori podem ser complementos valiosos, mas ainda insuficientes isoladamente para impactar de forma decisiva na mortalidade.

Em última análise, este estudo representa um marco importante na pesquisa sobre o câncer gástrico e sugere que, enquanto o FIT continua essencial para a triagem do câncer colorretal, o teste de H. pylori pode adicionar valor em cenários específicos. A combinação de estratégias de prevenção e triagem pode ser a chave para enfrentar desafios maiores de saúde pública, com base em abordagens personalizadas para cada população.

Esse formato em estilo de reportagem permite uma melhor compreensão do tema para o público geral, abordando tanto os aspectos técnicos quanto as implicações práticas da pesquisa. Ele destaca o papel do H. pylori na prevenção do câncer gástrico, incentivando uma reflexão sobre a importância de abordagens integradas e contínuas na triagem e prevenção do câncer.

FONTE: https://jamanetwork.com/journals/jama/article-abstract/2824276?guestAccessKey=e0875246-932a-4b7c-b148-03067ceec164&utm_source=silverchair&utm_medium=email&utm_campaign=article_alert-jama&utm_content=olf&utm_term=093024&adv=