SARS-CoV-2 em Vida Selvagem: Estudo Revela Mutações e Riscos em Espécies Perto de Áreas Humanas
Descrição do post.Novas pesquisas mostram a presença do SARS-CoV-2 em várias espécies de vida selvagem nos EUA, com mutações não relatadas anteriormente. Descubra os riscos de transmissão e a importância da vigilância em áreas de alto tráfego humano.
Fábio. H. M. Micheloto
9/25/20244 min read


SARS-CoV-2 em Vida Selvagem: Estudo Revela Mutações e Alerta para Vigilância em Áreas de Alto Tráfego Humano
Uma pesquisa publicada recentemente na Nature Communications trouxe à tona novas preocupações sobre a propagação do SARS-CoV-2, o vírus causador da COVID-19, em espécies de vida selvagem. Anteriormente, já havia relatos do vírus em veados-de-cauda-branca, mas o estudo atual sugere que ele pode ser ainda mais comum em outros animais que habitam regiões próximas a áreas com grande circulação humana. A pesquisa levanta questões sobre o impacto da pandemia não apenas na saúde humana, mas também na vida selvagem e no ecossistema.
Entre maio de 2022 e setembro de 2023, os pesquisadores realizaram um extenso estudo nas regiões da Virgínia e Washington, DC, nos Estados Unidos. O objetivo era entender melhor como o vírus estava se disseminando entre as espécies selvagens, especialmente aquelas que habitam áreas urbanas ou periurbanas, onde o contato com seres humanos é mais frequente. As amostras foram coletadas de 23 espécies comuns, tanto de origem nasal quanto oral, abrangendo uma variedade de mamíferos que vivem próximos a áreas com alto fluxo de pessoas, como trilhas para caminhadas e parques públicos.
Os resultados surpreenderam os cientistas. O vírus foi detectado em seis espécies de vida selvagem: veados, camundongos, gambás, guaxinins, marmotas, coelhos e morcegos. Esse achado sugere que o SARS-CoV-2 está se disseminando entre diferentes grupos de animais, alguns dos quais compartilham habitats frequentemente frequentados por seres humanos. Essa descoberta levanta preocupações sobre o potencial risco que essa convivência pode representar no futuro, tanto para a vida selvagem quanto para as populações humanas.
Além da detecção direta do vírus, os pesquisadores realizaram uma análise mais aprofundada de 126 amostras de sangue dessas seis espécies, buscando sinais de infecção anterior. Eles encontraram anticorpos em cinco dessas espécies, o que indica que esses animais foram expostos ao vírus e desenvolveram uma resposta imunológica. Mais alarmante ainda foi a constatação de que a presença de anticorpos era três vezes maior em animais que viviam próximos a trilhas para caminhadas e áreas públicas de uso intensivo, em comparação com aqueles de áreas de baixo uso humano. Isso sugere uma correlação direta entre a interação com humanos e a exposição ao vírus.
Um dos achados mais intrigantes da pesquisa foi a descoberta de mutações no vírus isolado de um gambá, coletado em 2022. Essas mutações não haviam sido relatadas anteriormente, e os pesquisadores sugerem que elas podem ser resultado de transmissões de animal para animal, o que indica que o vírus está circulando entre espécies selvagens e, potencialmente, evoluindo. Isso levanta uma nova preocupação sobre o papel que a vida selvagem pode desempenhar na adaptação e evolução do SARS-CoV-2. Embora, até o momento, não haja evidências de que esses animais estejam transmitindo o vírus de volta para os seres humanos, o potencial de novas mutações que possam eventualmente saltar de volta para a população humana não pode ser ignorado.
Os cientistas envolvidos no estudo enfatizaram a importância de aumentar a vigilância sobre a disseminação do vírus entre os animais selvagens, especialmente em áreas de alto tráfego humano. A possibilidade de surgirem novas variantes do vírus, impulsionadas pela circulação entre animais selvagens, representa um risco potencial tanto para a vida selvagem quanto para a saúde pública. A transmissão do vírus entre espécies de animais selvagens pode criar condições para o surgimento de novas mutações que possam ser mais transmissíveis ou mais difíceis de controlar.
No entanto, apesar dos achados alarmantes, os pesquisadores também apontaram que, até o momento, não foram encontradas evidências de transmissão direta do SARS-CoV-2 de animais para seres humanos. Essa é uma boa notícia, mas não deve reduzir a preocupação com a vigilância contínua. A história da pandemia de COVID-19 mostrou como os vírus podem evoluir rapidamente e, em alguns casos, saltar de animais para humanos, como foi o caso inicial com o SARS-CoV-2. A prevenção é, portanto, essencial.
O estudo destaca a necessidade urgente de continuar monitorando a vida selvagem em áreas de alto tráfego humano, como trilhas e parques. As mutações identificadas no gambá são uma clara indicação de que o vírus está mudando e, embora atualmente não haja uma ameaça iminente de transmissão para os humanos, as condições para que isso ocorra podem ser criadas se a disseminação entre animais selvagens continuar sem controle.
Além disso, o estudo reforça a importância de proteger a biodiversidade e reduzir o impacto humano nos habitats selvagens. À medida que os humanos expandem suas atividades para áreas naturais, como parques e reservas, o risco de exposição cruzada entre espécies aumenta. A vigilância ativa, a redução de interações desnecessárias entre humanos e animais selvagens e o monitoramento contínuo de mutações são medidas essenciais para evitar que o SARS-CoV-2 ou outros patógenos façam uma transição significativa entre espécies.
Em conclusão, embora ainda não haja evidências de que os humanos estejam em risco direto pela transmissão de SARS-CoV-2 de animais selvagens, o estudo aponta para a necessidade de maior vigilância e pesquisa contínua. A evolução do vírus entre a vida selvagem, especialmente em áreas de interação com seres humanos, pode criar desafios futuros. A manutenção de esforços de monitoramento e a implementação de estratégias de proteção à vida selvagem e à saúde pública são essenciais para mitigar esses riscos.