Torsemida ou Furosemida: Qual é a Melhor Escolha para Pacientes com Insuficiência Cardíaca? Um Estudo Revelador
Um estudo clínico comparou o impacto da torsemida e da furosemida na mortalidade de pacientes hospitalizados com insuficiência cardíaca. Será que um desses diuréticos oferece uma vantagem significativa sobre o outro? Saiba mais sobre os resultados desse importante ensaio e o que eles significam para o tratamento da insuficiência cardíaca.
FARMACOLOGIA
Fábio H. M. Micheloto
10/24/20244 min read


A insuficiência cardíaca é uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, causando hospitalizações frequentes e uma taxa significativa de mortalidade. Dentre os medicamentos utilizados no manejo dessa condição, os diuréticos desempenham um papel crucial ao aliviar o excesso de líquido no corpo, reduzindo a sobrecarga no coração. Entre os diuréticos mais comuns estão a furosemida e a torsemida, ambos pertencentes à classe dos diuréticos de alça, mas com algumas diferenças importantes em termos de suas propriedades farmacológicas.
O Estudo TRANSFORM-HF
O ensaio clínico TRANSFORM-HF foi conduzido com o objetivo de responder a uma pergunta essencial: a torsemida é mais eficaz que a furosemida na redução da mortalidade entre pacientes hospitalizados com insuficiência cardíaca? Para isso, foram recrutados 2.859 pacientes em 60 hospitais nos Estados Unidos, com o estudo sendo realizado entre junho de 2018 e março de 2022. Esses pacientes, que haviam sido hospitalizados com insuficiência cardíaca, foram divididos em dois grupos. Um grupo recebeu torsemida, enquanto o outro foi tratado com furosemida. O principal objetivo era observar se haveria uma redução significativa da mortalidade em um período de acompanhamento de 12 meses.
Furosemida e Torsemida: Diferenças Farmacológicas
Antes de mergulhar nos resultados do estudo, é importante entender as diferenças entre esses dois medicamentos. A furosemida é amplamente utilizada como o diurético de escolha para pacientes com insuficiência cardíaca, devido à sua eficácia em eliminar o excesso de líquidos. Entretanto, estudos anteriores sugerem que a torsemida pode oferecer algumas vantagens sobre a furosemida, como uma maior biodisponibilidade oral e uma meia-vida mais longa, o que pode resultar em um efeito mais duradouro e consistente.
Além disso, a torsemida apresenta uma leve atividade inibitória sobre a aldosterona, um hormônio que contribui para a retenção de sódio e água no organismo, exacerbando os sintomas da insuficiência cardíaca. Por essas razões, havia a hipótese de que a torsemida poderia reduzir a mortalidade em pacientes com insuficiência cardíaca de forma mais eficaz que a furosemida.
Resultados Surpreendentes
No entanto, os resultados do estudo TRANSFORM-HF não confirmaram essa hipótese. Durante o acompanhamento de 17,4 meses, não foi observada uma diferença estatisticamente significativa na mortalidade entre os grupos que usaram torsemida e aqueles que usaram furosemida. No total, 26,1% dos pacientes tratados com torsemida e 26,2% dos tratados com furosemida faleceram no período analisado.
Além disso, quando analisadas outras variáveis, como a taxa de hospitalizações, os resultados também não mostraram uma diferença considerável entre os dois grupos. Ao longo de 12 meses, 47,3% dos pacientes no grupo da torsemida foram hospitalizados ou morreram, em comparação com 49,3% no grupo da furosemida.
Interpretação e Limitações
Embora o estudo tenha sido robusto em termos de número de participantes e duração, é importante destacar algumas limitações que podem ter influenciado os resultados. Uma delas foi a alta taxa de abandono do estudo, com 113 pacientes retirando seu consentimento durante o período de acompanhamento. Além disso, alguns participantes mudaram de um medicamento para o outro ao longo do estudo, o que pode ter afetado os dados de adesão e o impacto final das medicações.
Outra limitação importante foi a perda de seguimento de alguns pacientes, o que pode ter comprometido a interpretação dos resultados. O estudo foi desenhado para ser pragmático, ou seja, refletir o tratamento da vida real, onde a troca de medicações e a falta de aderência são comuns. Contudo, esses fatores dificultam a análise de um possível benefício isolado de uma medicação sobre a outra.
Subgrupos Específicos e Novas Perspectivas
Apesar de os resultados gerais não apontarem uma diferença significativa entre os dois medicamentos, os pesquisadores também analisaram subgrupos específicos de pacientes, levando em consideração a fração de ejeção cardíaca — que indica o quão bem o coração está bombeando o sangue. Tanto pacientes com fração de ejeção reduzida quanto aqueles com fração preservada não apresentaram uma diferença significativa nos resultados, sugerindo que a escolha entre torsemida e furosemida pode ser feita com base em outros fatores, como a preferência do paciente e a resposta individual ao tratamento.
O Papel da Torsemida e Furosemida no Futuro do Tratamento da Insuficiência Cardíaca
Mesmo com a falta de uma diferença significativa nos resultados de mortalidade, tanto a torsemida quanto a furosemida continuam sendo opções viáveis e eficazes para o tratamento da insuficiência cardíaca. A decisão de qual medicamento utilizar deve ser baseada em uma avaliação individualizada, considerando fatores como a facilidade de administração, a resposta clínica e o perfil de efeitos colaterais.
É possível que, em subgrupos específicos de pacientes, a torsemida ofereça benefícios que não foram capturados totalmente neste estudo. Estudos futuros poderiam focar em pacientes com condições mais graves ou que apresentam maior resistência ao tratamento com furosemida, para verificar se a torsemida oferece uma vantagem nesses casos.
Considerações Finais
O ensaio clínico TRANSFORM-HF traz contribuições importantes para a compreensão do tratamento da insuficiência cardíaca, uma condição debilitante que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Embora não tenha sido encontrada uma diferença significativa entre torsemida e furosemida em termos de redução de mortalidade, o estudo reforça a importância da pesquisa clínica na busca por melhores estratégias de tratamento.
A escolha entre esses dois diuréticos de alça pode depender de fatores como a resposta individual ao tratamento e a praticidade de uso, já que ambos demonstraram ser eficazes no controle dos sintomas da insuficiência cardíaca. A pesquisa contínua nessa área será crucial para melhorar ainda mais os cuidados e a qualidade de vida dos pacientes.
Com esses resultados em mãos, médicos e pacientes podem se sentir mais confiantes em personalizar o tratamento da insuficiência cardíaca, escolhendo o medicamento que melhor se adapta ao quadro clínico e às necessidades de cada indivíduo.
Palavras-chave: insuficiência cardíaca, torsemida, furosemida, diuréticos, tratamento, estudo clínico, mortalidade, hospitalização, TRANSFORM-HF.