Vacina Contra Herpes Zoster Pode Reduzir o Risco de Demência, Revela Estudo

Um novo estudo sugere que a vacina recombinante contra herpes zoster, Shingrix, pode não apenas proteger contra o vírus, mas também reduzir o risco de demência, especialmente em mulheres. Saiba mais sobre os benefícios da vacina.

Fábio H. M. Micheloto

9/25/20244 min read

Estudo Revela que Vacina Contra Herpes Zoster Pode Reduzir Risco de Demência

A vacina contra herpes zoster, também conhecida como Shingrix, foi aprovada pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos em outubro de 2017 como uma alternativa mais eficaz à antiga vacina de vírus vivo. Inicialmente, a aprovação foi baseada na superioridade da vacina recombinante em proteger pessoas com 50 anos ou mais contra o herpes zoster, também conhecido como cobreiro. No entanto, um novo estudo publicado na revista Nature Medicine traz um benefício adicional surpreendente: a possibilidade de que essa vacina também possa reduzir o risco de desenvolver demência.

O herpes zoster é causado pela reativação do vírus varicela-zoster, o mesmo vírus responsável pela catapora. Após a infecção inicial, o vírus permanece dormente no corpo e pode ser reativado anos mais tarde, principalmente em pessoas mais velhas ou com sistema imunológico enfraquecido, resultando em uma erupção cutânea dolorosa. A vacina Shingrix foi desenvolvida para oferecer proteção de longa duração contra o herpes zoster, mas agora parece que seus benefícios podem ir além da prevenção do vírus.

O estudo observacional analisou os registros de saúde de aproximadamente 208.000 pessoas nos EUA, divididas em dois grupos: metade recebeu a antiga vacina de vírus vivo antes de outubro de 2017, enquanto a outra metade recebeu a vacina recombinante, Shingrix, após novembro de 2017. Os pesquisadores então acompanharam essas pessoas por até seis anos após a vacinação para verificar a incidência de demência.

Os resultados foram significativos. Entre os participantes que eventualmente desenvolveram demência, aqueles que receberam a vacina recombinante Shingrix viveram, em média, 164 dias a mais sem um diagnóstico de demência em comparação com aqueles que receberam a vacina de vírus vivo. Este dado sugere que a nova versão da vacina pode oferecer uma proteção adicional contra o desenvolvimento da doença neurodegenerativa. O efeito protetor foi observado tanto em homens quanto em mulheres, mas foi mais pronunciado entre as mulheres.

Embora a conexão entre a vacina contra herpes zoster e a demência ainda não seja completamente compreendida, os pesquisadores têm algumas teorias sobre por que isso pode estar acontecendo. Uma explicação proposta é que a vacina protege contra a infecção por herpes, que, por sua vez, pode estar relacionada ao desenvolvimento de demência. Existem evidências que sugerem que o vírus herpes pode contribuir para o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, ao causar inflamação crônica no cérebro. Ao prevenir a reativação do vírus, a vacina poderia reduzir esse processo inflamatório, diminuindo, assim, o risco de demência.

A relação entre infecções virais e demência não é nova. Pesquisas anteriores indicaram que infecções crônicas podem estar associadas ao aumento do risco de doenças como o Alzheimer. O vírus herpes simples (HSV-1), que causa o herpes labial, também foi vinculado ao desenvolvimento de placas no cérebro, características da doença de Alzheimer. Assim, a hipótese de que a vacina Shingrix possa prevenir a reativação do vírus e, portanto, reduzir o risco de demência, é consistente com essas descobertas anteriores.

Outro ponto importante levantado pelos pesquisadores foi o impacto desproporcional da vacina entre os gêneros. As mulheres que receberam Shingrix pareciam se beneficiar mais da proteção contra a demência em comparação aos homens. Embora o estudo não tenha identificado uma causa clara para essa diferença, pode haver fatores biológicos que tornam as mulheres mais suscetíveis às consequências de infecções virais crônicas no cérebro. Alternativamente, pode haver variações na resposta imunológica entre homens e mulheres, o que poderia explicar a diferença nos efeitos protetores da vacina.

Este estudo observacional é um passo importante para entender os potenciais benefícios da vacina Shingrix além da prevenção do herpes zoster. No entanto, os autores ressaltam que mais pesquisas são necessárias para confirmar esses achados e explorar melhor o mecanismo pelo qual a vacina pode proteger contra demência. Embora o estudo forneça evidências convincentes de que a vacina recombinante pode prolongar o tempo até o diagnóstico de demência, ele não prova uma relação causal direta entre a vacina e a redução do risco da doença.

É importante lembrar que, enquanto a vacina Shingrix já é amplamente recomendada para a prevenção do herpes zoster em pessoas com 50 anos ou mais, este novo possível benefício é uma descoberta relativamente recente e ainda precisa ser confirmado por estudos futuros. No entanto, os resultados são promissores e sugerem que a vacinação pode oferecer uma camada adicional de proteção para as pessoas que estão envelhecendo, não apenas contra o herpes zoster, mas também contra o declínio cognitivo associado à demência.

Em resumo, a vacina Shingrix continua a se destacar como uma importante ferramenta de saúde pública. Além de ser eficaz na prevenção do herpes zoster, este novo estudo aponta para a possibilidade de que ela também possa desempenhar um papel na proteção contra a demência, especialmente em mulheres. Mais estudos são necessários para confirmar esses achados, mas os resultados até agora são animadores.

Fonte: https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2822940?guestAccessKey=f383eed7-bad3-4030-abc0-722cebec02fe&utm_source=silverchair&utm_medium=email&utm_campaign=article_alert-jama&utm_content=etoc&utm_term=091724